quinta-feira, 18 de junho de 2015

NAMASTÊ INTERIOR

É tempo de despertar! Oliver Sacks e eu aceitamos esta regra: é tempo de despertar! Um tempo em que, suspeito, tomaremos, eu e Oliver, novos caminhos. Mas o passo neste sentido está em gestação. Ao olhar ao redor, o tempo tem movimentos bem mais lentos do que antes e algo nos diz ‘nada será como antes’. Mas quando? Quando o ‘antes’ será ‘agora’? Ou ainda, por onde? A expectativa cria uma angústia. Como? Onde? E os dias passam. Numa terça-feira, experimentamos outro olhar. Saímos do cotidiano e tentamos esvaziar o corpo para o ‘porvir’. Susto no shopping. Susto no metrô. Acostumados com o ambiente solitário do carro, se submetem a todo tipo de olhares no metrô. São mudanças de objetivos, de ponto de fuga. Nós estamos em silêncio e olhando para todos os lados. Não é medo, é gratificação: estão no meio de todos. Em uma propaganda de rua, a palavra ‘namastê’. Novo susto! A vida trazia uma benção. A vida saudava nossas aventuras no mundo real. Nós nos entreolhamos e sorrimos. Estamos felizes. No centro da cidade, nos despedimos e sigo meu caminho. Engraçada essa expressão: sigo o meu caminho. Quando eu fiz isso? O que me valeu fazer isso? Quais mudanças fazer isso me trouxe? Eu não sei, só sei que seguir era única forma de me encontrar. Cada caminho é resultado de uma escolha que dificilmente poderei me arrepender e com o qual deverei conviver, por isso, hoje, com certos cuidados, sigo o meu caminho. Ando de olhos fechados: é uma decisão. Quero sentir os sons, os movimentos e os cheiros desta cidade que não pára de me surpreender. Amo minha vida. Amo outras vidas. Amo saber que posso ser e ter outras vidas. Com amor no coração, assisto à palestra ‘Cultura – Espiritualidade: os caminhos da individuação’. Muitas sensações. Orgulho da amizade. Prazer do reconhecimento. Felicidade pela conquista do Outro. Expectativa pela passagem do tempo. Esperança de sucesso. Tudo decorre bravamente para a louvação. Mas internamente sofro. Minhas angustias são discutidas numa história, numa análise e na expressão dos conteúdos. Presto atenção, é o máximo de comportamento que me dou ao direito. Presto atenção porque, mais do que revelação, tenho a capacidade de entender que ouvia como entender meu ‘touro’ atual. Ao meu olhar, o significado ou o esclarecimento advinham de gestos fortes, tonalidade de voz sedutora, afirmativas contundentes e muitas questões oferecidas para colar em minha ‘sinistra’ individuação. Depois de Oliver, Jung me atinge e exige novas ações de vida. A platéia, incomodada, fala baixinho, lembra e chora. Como assumir a cultura do perdão como forma de nova espiritualidade? A vida já tem (ou já está em) curto prazo, então como passar borrachas em intransigências, grosserias ou indiferenças tácitas? Eu não me mexo. Como sempre, aparece o pavor de chamar a atenção. Estou imersa em mim e atrás do meu ‘touro’. Amizade é um santo remédio! Na sala, todo o mundo rodopiou, a palestra era só pra mim. Eu precisava sair do esperado, precisava descompor minha neblinas construídas, boa parte, por projeções de outros. É uma cerca com brechas, mas é uma cerca. Serei eu uma camuflagem? Ou como escutei uma vez, um blefe? Cada palavra, toque de olhar e expressão fácil montam um quebra-cabeça de ideações de superação (abandono) de minhas inseguranças e inquietações. Como não posso brincar de adivinhações, espero um novo dia sem tantos egoísmos.

Claudia Nunes 2009


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