É tempo de
despertar! Oliver Sacks e eu aceitamos esta regra: é tempo de despertar! Um
tempo em que, suspeito, tomaremos, eu e Oliver, novos caminhos. Mas o passo
neste sentido está em gestação. Ao olhar ao redor, o tempo tem movimentos bem
mais lentos do que antes e algo nos diz ‘nada será como antes’. Mas quando?
Quando o ‘antes’ será ‘agora’? Ou ainda, por onde? A expectativa cria uma
angústia. Como? Onde? E os dias passam. Numa terça-feira, experimentamos outro
olhar. Saímos do cotidiano e tentamos esvaziar o corpo para o ‘porvir’. Susto
no shopping. Susto no metrô. Acostumados com o ambiente solitário do carro, se
submetem a todo tipo de olhares no metrô. São mudanças de objetivos, de ponto
de fuga. Nós estamos em silêncio e olhando para todos os lados. Não é medo, é
gratificação: estão no meio de todos. Em uma propaganda de rua, a palavra
‘namastê’. Novo susto! A vida trazia uma benção. A vida saudava nossas
aventuras no mundo real. Nós nos entreolhamos e sorrimos. Estamos felizes. No
centro da cidade, nos despedimos e sigo meu caminho. Engraçada essa expressão:
sigo o meu caminho. Quando eu fiz isso? O que me valeu fazer isso? Quais
mudanças fazer isso me trouxe? Eu não sei, só sei que seguir era única forma de
me encontrar. Cada caminho é resultado de uma escolha que dificilmente poderei
me arrepender e com o qual deverei conviver, por isso, hoje, com certos
cuidados, sigo o meu caminho. Ando de olhos fechados: é uma decisão. Quero
sentir os sons, os movimentos e os cheiros desta cidade que não pára de me
surpreender. Amo minha vida. Amo outras vidas. Amo saber que posso ser e ter
outras vidas. Com amor no coração, assisto à palestra ‘Cultura –
Espiritualidade: os caminhos da individuação’. Muitas sensações. Orgulho da
amizade. Prazer do reconhecimento. Felicidade pela conquista do Outro.
Expectativa pela passagem do tempo. Esperança de sucesso. Tudo decorre
bravamente para a louvação. Mas internamente sofro. Minhas angustias são
discutidas numa história, numa análise e na expressão dos conteúdos. Presto
atenção, é o máximo de comportamento que me dou ao direito. Presto atenção
porque, mais do que revelação, tenho a capacidade de entender que ouvia como
entender meu ‘touro’ atual. Ao meu olhar, o significado ou o esclarecimento
advinham de gestos fortes, tonalidade de voz sedutora, afirmativas contundentes
e muitas questões oferecidas para colar em minha ‘sinistra’ individuação.
Depois de Oliver, Jung me atinge e exige novas ações de vida. A platéia, incomodada,
fala baixinho, lembra e chora. Como assumir a cultura do perdão como forma de
nova espiritualidade? A vida já tem (ou já está em) curto prazo, então como
passar borrachas em intransigências, grosserias ou indiferenças tácitas? Eu não
me mexo. Como sempre, aparece o pavor de chamar a atenção. Estou imersa em mim
e atrás do meu ‘touro’. Amizade é um santo remédio! Na sala, todo o mundo
rodopiou, a palestra era só pra mim. Eu precisava sair do esperado, precisava
descompor minha neblinas construídas, boa parte, por projeções de outros. É uma
cerca com brechas, mas é uma cerca. Serei eu uma camuflagem? Ou como escutei
uma vez, um blefe? Cada palavra, toque de olhar e expressão fácil montam um
quebra-cabeça de ideações de superação (abandono) de minhas inseguranças e
inquietações. Como não posso brincar de adivinhações, espero um novo dia sem
tantos egoísmos.
Claudia Nunes 2009
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