quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O QUE ACONTECEU ENTRE 1959 e 2011

PARA REFLETIR

Entre 1959 e 2011

Cenário 1: João não fica quieto na sala de aula. Interrompe e perturba os colegas.
·        Ano 1959: É mandado à sala da diretoria, fica parado esperando 1 hora, vem o diretor, lhe dá uma bronca descomunal e até umas reguadas nas mãos e volta tranqüilo à classe. Esconde o fato dos pais com medo de apanhar mais. Pronto.
·        Ano 2011: É mandado ao departamento de psiquiatria, o diagnosticam como hiperativo, com transtornos de ansiedade e déficit de atenção em ADD, o psiquiatra receita  Rivotril. Transforma-se num zumbi. Os pais reivindicam uma subvenção por ter um filho incapaz e processam o colégio.

Cenário 2: Luis, de sacanagem quebra o farol de um carro, no seu bairro.
·       Ano 1959: Seu pai tira a cinta e lhe aplica umas sonoras bordoadas no traseiro. A Luis nem lhe passa pela cabeça fazer outra nova "cagada", cresce normalmente, vai à universidade e se transforma num profissional de sucesso.
·        Ano 2011: Prendem o pai de Luis por maus tratos. O condenam a 5 anos de reclusão e, por 15 anos deve abster-se de ver seu  filho. Sem o guia de uma  figura paterna, Luis se volta para a droga, delinqüe e fica preso num presídio especial para adolescentes. 

Cenário 3: José cai enquanto corria no pátio do colégio, machuca o joelho. Sua professora Maria, o encontra chorando e o abraça para confortá-lo...
·        Ano 1959: Rapidamente, João se sente melhor e continua brincando. 
·        Ano 2011: A professora Maria é acusada de não cuidar das crianças. José passa cinco anos em terapia pelo susto e seus pais processam o colégio por danos psicológicos e a professora por negligência, ganhando os dois juízos. Maria renuncia à docência, entra em aguda depressão e se suicida...

Cenário 4: Disciplina escolar
·        Ano 1959: Fazíamos bagunça na classe... O professor nos dava uma boa "mijada" e/ou encaminhava para a direção; chegando em casa, nosso velho nos castigava sem piedade e no resto da semana não incomodávamos mais ninguém.
·        Ano 2011: Fazemos bagunça na classe. O professor nos pede desculpas por repreender-nos e fica com a culpa por fazê-lo. Nosso velho vai até o colégio dar queixa do professor e para consolá-lo compra uma moto para o filhinho.

Cenário 5: Horário de Verão.
·        Ano 1959: Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. Nada acontece.
·        Ano 2011: Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. A gente sofre transtornos de sono, depressão, falta de apetite, nas mulheres aparece até celulite.

Cenário 6: Fim das férias.
·       Ano 1959: Depois de passar férias com toda a família enfiados num Gordini ou Fusca, é hora de voltar após 15  dias de sol na praia. No dia seguinte se trabalha e tudo bem.
·        Ano 2011: Depois de voltar de Cancun, numa viagem 'all inclusive', terminam as férias e a gente sofre da síndrome do abandono, "panic attack", seborréia, e ainda precisa de mais 15 dias de readaptação...
   
Cenário 7: Saúde.
·        Ano 1959: Quando ficávamos doentes, íamos ao INPS aguardávamos 2 horas para sermos atendidos, não pagávamos nada, tomávamos os remédios e melhorávamos.
·        Ano 2011: Pagamos uma fortuna por plano de saúde. Quando fazemos uma distensão muscular, conseguimos uma consulta VIP para daqui a 3 meses, o médico ortopedista vê uma pintinha no nosso nariz, acha que é câncer, nos indica um amigo dermatologista que pede uma biópsia, e nos indica um amigo oftalmologista porque acha que temos uma deficiência visual.  Fazemos quimioterapia, usamos óculos e depois de dois anos e mais 15 consultas, melhoramos da distensão muscular.

Cenário 8: Trabalho.
·        Ano 1959: O funcionário era "pego" fazendo cera (fazendo nada). Tomava uma regada do chefe, ficava com vergonha e ia trabalhar. 
·        Ano 2011: O funcionário pego "desestressando" é abordado gentilmente pelo chefe que pergunta se ele está passando bem. O funcionário acusa-o de bullying e assédio moral, processa a empresa que toma uma multa, o funcionário é indenizado e o chefe é demitido.

Cenário 9: Assédio.
·        Ano 1959: A colega gostosona recebe uma cantada de Ricardo. Ela reclama, faz charminho mas fica envaidecida, saem para jantar, namoram e se casam.
·         Ano 2011: Ricardo admira as pernas da colega gostosona quando ela nem está olhando, ela o processa por assédio sexual, ele é condenado a prestar serviços comunitários. Ela recebe indenização, terapia e proteção paga pelo estado.

Pergunta-se:
EM QUE MOMENTO FOI, ENTRE 1959 E 2011, QUE NOS TRANSFORMAMOS NESTE BANDO DE BOSTAS?

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

CÉREBRO E OS MALABARES

Parada no trânsito, observo dois meninos brincando com malabares. Eles se apresentam nas ruas por dinheiro. Em um minuto de sinal, olho e penso: como eles aprenderam?

Hoje em dia se fala muito sobre cérebro. Vários autores de diferentes ciências apontam o cérebro como a tecnologia das tecnologias. Outras tecnologias seriam ferramentas, artefatos, instrumentos. Mas o cérebro é inato, quase perfeito.

No mundo atual, o cérebro tem sido altamente atacado por um volume absurdo de informações em sua maioria síncronas. O tempo da atenção, seleção, compreensão e formação foi encurtado. Etapas da cognição são processadas aos saltos. Há uma crise nas chamadas competências e habilidades. Mas o garoto do sinal joga malabares sem errar. É um garoto novo demais para ter passado meses treinando. Sinal não abriu e eu continuo intrigada.

O cérebro dos nativos digitais recolhe as informações e as sobrepõe. Seus sentidos estão embaralhados e a plasticidade cerebral acelerada. Se ele aprendeu malabares, como será que aprende os conteúdos da escola? Malabares, além de dinheiro, é lúdico. O treino deve ser divertido e prazeroso. O cérebro redefine suas funções quando o prazer se instala. E na escola? Será tão fácil assim?

Na escola, mesmo se o prazer for estimulado, o ambiente é de reflexão. Se o mundo fora dela estiver exigente, competitivo e veloz; na escola, esse desequilíbrio não deve privilegiado. E os cérebros entram em crise. Fora da escola a atenção está diferente, mas dentro da escola, esta demanda tempo, o que fazer? Além disso há o choque de gerações. Imigrantes e nativos digitais estão próximos, precisam se relacionar, mas  ambos tem ações mentais diferentes uns sobre os outros. Ler, ouvir e conversar têm outras estruturas e outros procedimentos. Um dos malabares cai no chão: ele se distraiu com uma garota bonita que passou. Sinal abriu. Seu poder de concentração perdeu potencia por distração. Será que é isso que acontece?

Se a escola é chata porque o tempo do discurso é mais lento, os alunos estão distraídos. A aprendizagem perde foco. Os cérebros aprendentes então procuram outras imersões. Sem alternativas ou limites, alunos imergem no prazer em excesso, por exemplo, das ferramentas virtuais. Novos desequilíbrios e outras tantas distrações. Sem eficiência, são cérebros ágeis com retorno produtivo ineficiente em relação às exigências sociais. Despreparado, não conhecem, apenas se informam. O que fazer?

Chego a casa e fico na garagem, dentro do carro, pensando. São inteligências sem poder de manejo das informações que recebem. O processo de desligamento do seu entorno cultural é grande. Que triste! É um mundo diferente. O jeito é mudar as estratégias. É aprender novas apresentações de informação para estimular e explorar capacidades já existentes no cérebro. Expressão de ordem do processo de ensino e de aprendizagem: bioretroalimentação cerebral. É motivar o surgimento de filtros que possibilitem o descarte da informação desnecessária em detrimento do fortalecimento constante das sinapses e da memória de longa duração. É subir a pressão arterial e criar vários pontos à curiosidade. É acelerar a corrida dos neurotransmissores pelo corpo e ganhar energia física e mental.

Amanha preciso apresentar um projeto aos alunos: preciso ler e lê-los. Mas tenho uma certeza: minha formação não me preparou para os malabares.

Claudia Nunes

MUNICÍPIO E OS LIVROS DA ABL

Bem, repentinamente, o município do Rio de janeiro recusa livros doados pela Academia Brasileira de Letras. E isso não é ficção. Será que toda a rede tem livros? Será que em projetos educacionais, os livros não poderiam ser presenteados aos alunos? Livro em casa é uma forma de incentivo também. E os dicionários, por que devolver? Além do que, que desfeita! Suspense: por quê?

Ler é algo complexo. Ler não se limita aos textos impressos. Ler é tudo o que fazemos para entender o mundo e as pessoas. Ler é necessário à integração do sujeito em sociedade. Ler é saber o que aprender para ser. Profissões são resultados de leituras. Amizade é processo de leitura. Casamentos e paixões são seduções pós-leitura do outro. Ler é uma ferramenta que estimula criticidade, argumentos e opiniões. Nós, sujeitos de outros tempos, sabemos que ler se encaixa bem em outras ações: atenção, concentração e reflexão. Isso gera aprendizado. Ler é procurar variadas informações para solucionar problemas ou entender o mundo. Então o que acontece com nossos jovens? Eles lêem sim, mas são rápidos e práticos demais. São cérebros ledores muito velozes, mas impulsivos. Eles lêem o ‘agora’. Disputam leituras de mundo agora. Mesmo antes das novas tecnologias, os jovens estenderam os seus corpos e pensamentos no mundo, com todos os riscos e desconhecimentos. Os jovens então continuam sendo ansiosos, agitados, inquietos, impacientes e multi-tudo com as suas expectativa e necessidades. São leituras simples sobre uma realidade complexa. Como fazer com que entendam que a leitura traz mais opções de futuro? Como fazer com que entendam que a leitura bem feita (com tempo) pode realizar seus melhores desejos? Não há resposta. Leitura, em princípio, demanda afetividade, e, mesmo antes disso, demanda exemplo. Na escola, podemos alertá-los para histórias interessantes, mas nada é melhor do que o exemplo. Na escola pode-se oferecer boas estratégias de encontro com o gosto da leitura ao se oferecer também diferentes gêneros narrativos. Mas nada será tão incisivo quanto o exemplo. E o que seria o exemplo? Família. Incentivo familiar. Exemplo familiar. Atenção familiar. Precisamos aceitar o seguinte: saber ler letras unidas é alfabetização. Saber ler palavras unidas é letramento. Saber ler textos, mesmo os imagéticos e sonoros, é cidadania.

Nossos jovens nativos digitais, com pouco poder de concentração, elegem, inconscientemente, o conto, a crônica, a poesia e mesmo os microcontos como gêneros mais propícios às suas praticas de ledoras e literárias. Estão sob a influencia de um mundo performático e informatizado. Só que, na escola, ainda urge o texto impresso, ainda urge a linearidade de ações, ainda urge o professor dono do conhecimento. E na família, em sua maioria, nada mais. Na família, o mundo é o do trabalho para uma vida digna. E uma vida só de trabalho seleciona as prioridades: e leitura em geral não o é. É o tempo veloz descaracterizando as funções familiares.

No mundo do trabalho, o tempo passa com a prática de vida e não com a reflexão. Nas relações entre gerações, os mais jovens ficam quase à deriva porque, cada vez mais, não sua prioridade no seio familiar. Sua imaginação, criatividade e conhecimento ficam represadas. As válvulas de escape são construir ambientes, pessoas e cotidiano na Internet com total controle das dinâmicas. Ai a melhor defesa é o ataque: não gostam de ler. É melhor dizer isso do que acatar a chatice das interpretações de sala de aula. É melhor dizer isso porque todos acreditam e os deixam quietos. Mas ler passa pela possibilidade de transformar isso tudo. Como? Dando o exemplo.

Chega de verbalizações e experiências que não atingem suas inteligências! Se expressar nunca dependeu somente do impresso. A liberdade tem múltiplas cores e em cada uma uma leitura, um sentido. Em meio a eles, sejamos ledores mesmo. Aulas com contação de historias, que tal? Atitude de reconhecimento dos seus próprios interesses em sala de aula, que tal? Explicações com mais indicações ou citações, que tal? Ler só se incentiva quando quem o faz ama ler também. Não dá para ser diferente...

Exemplo, família? Exemplo, professor? Exemplo, município? Nada! Que feio!

Claudia Nunes

domingo, 9 de outubro de 2011

POR ONDE COMEÇAR?

Semana de provas na escola. Educandos ansiosos e agitados. Estamos fechando o 3º bimestre. Nós, educadores, temos que aplicar as provas dos colegas. Hoje, sexta-feira, eu estou aplicando a prova de Biologia. O silêncio da sala me deixa observar e pensar. Estou num momento tradicional do ensino: educandos enfileirados e realizando avaliação individual sem consulta. Depois de 20min percebo que cresce a agitação. Avaliações que demandam mais de um hora ou dois tempos de 40min para sua solução são problemáticas para eles. Depois de 20min de silencio e leitura, estão dispersos. Depois de 20 min, e ao perceberem que a prova tinha 08 questões, eles já se sentem cansados, começam a pensar em sair rápido e/ou se estimulam a olhar para a prova do amigo. Depois de 20 min, a escola tradicional vai ao chão. Por que manter este tipo de avaliação tão rígida?
O mundo sugere mais flexibilidade nos conceitos, nas relações, nos ambientes de aprendizado, nas performances profissionais mas, na escola, a prevalência ainda é de estudos quase decorebas, muito sem criatividade. Não quero dizer com isso que devemos eliminar este recurso avaliativo, mas no conceito de avaliação já existem muitas maneiras de verificar o conjunto de aprendizagens (habilidades) que os educandos adquiriram ao longo de um bimestre. Nas formas de avaliação também deve haver flexibilidade.
            O tempo passa e vários educandos, depois de 40 min, já estavam com a prova pronta. Coisas que aprendi quando também estudante não estão mais presentes neste momento: ler a prova com calma, fazer um pequeno rascunho sobre as questões dissertativas, não rasurar questões de múltipla escolha, organizar a realização da prova dentro do tempo, reler a prova com cuidado, realizar a prova à caneta etc. O tempo de reflexão é mínimo porque a cabeça já está em outros lugares ou pessoas prazerosos do fim de semana. Olham as perguntas para saber o que procurar para responder. Dificilmente lêem enunciados, preferindo perguntar diretamente ao professor. Muitos problemas com as palavras e a gramática. Que tecnologias dariam conta disso?
            Neste conjunto de questionamentos, as novas tecnologias, como recursos didáticos, poderiam resgatar a plasticidade cognitiva dos educandos, caso os educadores abrissem outra tecnologia ao novo tempo: o cérebro. Como primeira tecnologia criativa humana, o cérebro ganhou elasticidade em diferentes espaços e objetos. É o cérebro que deseja se comunicar e para tal se adequa/se adapta aos contextos e às grandes revoluções do mundo humano. Suas extensões, como o papel, o lápis, o livro, os meios de comunicação e as ferramentas virtuais e digitais estão plenamente disponíveis e vem causando fortes transformações na sociedade.
            A população de nativos digitais (nascidos na era da informática – década de 80 em diante) tem chegado às nossas escolas com o cérebro diferente. A tecnologia humana maior está modificada, ainda que as expectativas em torno das ações da escola sejam iguais. Eles estão diferentes. São frutos de uma sociedade em crise, em revolução, emergente, em mudança radical. Uma sociedade que tem seus valores, regras e limites em processo de revitalização. E se tudo está flexível ou líquido, os educandos se vêem inseguros, sozinhos, mas fortemente exigidos em seu processo relacional e formativo.
          Estou numa sala de aula, num momento de avaliação tradicional, em que duas turmas de 1º ano do Ensino Médio, noite, se preparam para construir mais um resultado à sociedade. Neste momento, a ansiedade e agitação sugerem mais desentendimento sobre o momento do que descompromisso com os estudos. Será que, pela primeira vez, eu os estou olhando seriamente? A faixa etária está misturada, mas os comportamentos são semelhantes. Eles têm que passar. Eles precisam de nota. Sua preocupação é com a nota. Mas seus cérebros realizam a avaliação como algo desagradável do qual devem se descartar rápido. E essa é a comunicação geral para mim. Cadê o respeito ás formas de conhecimento e entretenimento deles? Qual seria meu papel nesta seara?
            Sem querer, de repente, um celular toca. Eu tenho calafrios. Sem nenhum incomodo, o educando atende o celular, ainda que peça desculpas. Como assim? Não discuto o problema do celular sempre ligado em sala, discuto a presença real das diferentes tecnologias na vida dos educandos e eu tomando conta de uma avaliação tradicional. Não demos conta das dificuldades de aprendizagem, criamos outras. Não demos conta da diversidade, misturamos tudo. Não demos conta do papel e do analfabetismo, e já temos analfabetismo funcional e livros digitais. Não demos conta da saúde e da educação em geral, informatizamos a escola. Seriam boas essas contradições para estes educandos?
      Envolvidos em muitos problemas escabrosos em família ou particularmente, a tecnologia cérebro já quase nasce comprometida. Se lemos os jornais todos os dias, já observamos que tudo falta para a grande maioria dos cidadãos cariocas, quiça meus educandos que vivem em comunidades de alta e média periculosidade em torno da escola. Mesmo assim, em muitos casos, eles têm celulares de alta tecnologia, tem e-mail (apesar da maioria não ter computador em casa) e acessam rotineiramente muitas redes sociais virtuais. ‘Atrasados’ em termos cognitivos, almejam ardorosamente laptops, Ipods, Mp3 e agora os tablets. Almejam novos suportes, mas enfrentam uma luta acirrada com o papel, o lápis, a caneta, a leitura, o resumo, a dissertação, os enunciados.
            São 21h e tenho em sala 04 educandos. E meus pensamentos não param. Eles foram à Bienal, se sentiram prestigiados pela escola, passaram horas convivendo com livros e atividades, e voltaram para casa com livros. Com livros? Que loucura! Não são eles sempre apontados como os que não gostam de ler? O que houve então? O ambiente, a liberdade, a possibilidade de escolha e de expor sua curiosidade. Grande parte dos livros comprados era de auto-ajuda, mas eram livros, eram suas escolhas de leitura. Além disso, conheceram novas ferramentas de leitura como, por exemplo, os e-books.
      O ambiente, então, estimulara sua curiosidade e daí, em muitos momentos, apresentaram muitas dúvidas: assim se fez o conhecimento. Suas memórias estavam marcadas para sempre. Lembrariam disso para sempre. O recurso da visita técnica é importante para conhecer e entender informações e/ou conteúdos. E as tecnologias virtuais não estavam presentes. Por que não avaliá-los neste momento?
            Na volta, muita alegria, aliás, semanas de alegria. Alguns educadores promoveram debates sobre a visita ou solicitaram diários de viagem. Ambas atividades realizadas com um prazer enorme, segundo um educador de Física. Ambas atividades coletivas, colaborativas, desafiantes cuja solução explorava as formas de olhar a vida, o mundo, a escola ou apenas a própria visita. E ai, neste momento, somente neste momento, o uso das ferramentas da Internet para mostrar (e contar sobre) o momento. Blog da escola, fotoblogs pessoais, orkuts, facebooks, MSN, tudo em movimento e explorando este momento ímpar do conhecimento. E agora uma avaliação tão tradicional?
            Não estou confortável e eles também não. Sou profissional da mediação e não da reprovação. Eles estão cada vez mais longe da ação da escola. Então é a ação da escola que deve mudar, se transformar e atrair seus olhares (dos educandos). É na escola que boa parte do que a sociedade apresenta deve ser repensada e analisada. Daí sairá o poder da escolha (seletividade) dos educandos quanto aos caminhos futuros. E de novo é a tecnologia cérebro a mais importante nestes momentos.
            Estou sozinha na sala. Acabou a prova e mais um pensamento me atravessa: o uso das mídias digitais depende muito do acesso e do perfil do educando. Eu me incomodo com a avaliação tradicional constante. Mas levo em consideração os perfis dos educandos? Ou suas dificuldades de aprendizagem? Tudo é uma questão de costume. Oralidade, escrita, livros impressos, leitura digital, conversa on-line, relação virtual, preferi-los é uma questão de hábito/costume e de perfil. A maioria dos educandos desta escola tem acesso, não tem a posse das novas tecnologias. Eles almejam a posse. Mas a oralidade e o suporte papel ainda são ainda muito confortáveis para as relações e os estudos. Não lhes ensinaram a desapegar. Não lhes ensinaram a construir conhecimentos em outros suportes, com outros recursos, em outros ambientes, mesmo os mais antigos.
            Em casa, no computador, revejo todo o meu dia e aceito que nossa escola precisa se hipertextualizar no item práticas de ensino e estimular a imaginação, a curiosidade e a criatividade de nossos educandos com afetividade, colaboração e solidariedade. É uma grande transformação, um grande despertar cuja textura fincará novos pilares à aprendizagem. Ai me pergunto:
            - Por onde começar?

Ms Profa Claudia Nunes

sábado, 8 de outubro de 2011

ATÉ QUANDO?

ATÉ QUANDO?

Há novos ares sendo respirados na educação estadual carioca. Há nova administração instaurando novos procedimentos que dinamizem as práticas pedagógicas. E há professores ainda extremamente descrentes quanto às mudanças ou quanto à possibilidade de se obter mais qualificação nas formas de aprender. Até quando?
Há o reconhecimento de que as políticas públicas voltadas à educação, por exemplo, do Ensino Médio, dependem da gestão em questão e em seu tempo de serviço na pasta. Há a certeza de que as propostas governamentais já nascem com data de término: a mudança de governo ou do próprio secretário. Até quando?
Diante desta situação híbrida, os educadores criaram uma couraça em torno de si mesmos: todo e qualquer indicativo ou projeto de mudança é desacreditado, questionado e, por vezes, anulado. E isto não é um posicionamento por infantilidade ou imaturidade. É uma postura contextualizada, ou seja, surgida a partir das várias experiências interessantes que realizaram (os educadores), mas quase nunca valorizadas. Em cada experiência de projeto ou de mudança estratégica de governo, muitos esforços, desgastes, apostas e... nada! Sem respaldo, sem retorno, sem valorização, esquecido, o educador se percebe inútil, então também se pergunta: até quando?
            Atualmente, de novo, apresenta-se uma luz ao final do túnel: há uma política pública de revalorização dos educadores por meio de pequenos (e contínuos) aumentos de salários, diferentes gratificações, aberturas de espaços de formação continuada e alguns bônus de incentivo à pesquisa e à leitura. Nada de excelência ou que transforme a visão da sociedade sobre o educador ou a visão do próprio educador sobre si mesmo com agilidade, mas, diante de uma terra árida (políticas anteriores), dos males o menor; ou diante de um ‘nada’ anterior, apresenta-se uma primavera diferente. Até quando?
            Segundo minha avó, porém, ‘para todo bônus, há um ônus’. E, no caso do ensino, este ônus apresenta-se nas exigências de reestruturação física e pedagógica da escola quase que urgentes, lembremos que o tempo das mudanças de governantes está próximo. Primeiro, há apresentação e conscientização dos gestores (entendidos como multiplicadores) quanto ao novo momento. Segundo, há a implantação de um programa cujos itens devem ser observados e suplantados quando fora dos padrões (ou metas) estipulados. E terceiro, há a construção de uma filosofia pedagógica voltada à dinamização, estímulo e motivação dos educandos. Sendo bem simples, duas questões devem ser revertidas: a ‘infrequencia’ e a indisciplina. Até quando?
            Entende-se, então, que a introdução, por exemplo, de recursos tecnológicos digitais e virtuais às atividades de aula e mesmo a realização de aulas inovadoras e diferenciadas (mais dinâmicas) são fundamentais para o reposicionamento da escola como ambiente de encontro com a informação e de construção do conhecimento, além fazer com que os educandos permaneçam mais tempo em seu interior. Até quando?
           Nesta perspectiva, tem-se observado a realização de vários projetos interdisciplinares, ou didáticos dentro da compreensão de inovação dos processos de aprendizagem. Vários educadores têm se esforçado em reler suas práticas de ensino e estabelecer novos desafios ao ato de ensinar. Mais do que o conteúdo, percebe-se que os educadores investem em carregar os educandos com variadas ferramentas que lhes proporcionem melhor integração em sociedade. As ações coletivas começam a ser focalizadas como pontos de onde os educadores podem resgatar as atenções de seus educandos ao contexto de maneira geral. Mas até quando?
            Esta semana houve novo projeto de sensibilização na escola. Mas uma sensibilização dos educadores quanto a si mesmos; sua posição, hoje, em sociedade e, mesmo diante dos seus educandos. A equipe pedagógica promoveu um encontro pedagógico com outro projeto, o “PAPO DE RESPONSA”, projeto que prioriza as vozes desejantes de mudanças e a responsabilização sobre os sonhos e o futuro de si e dos outros, sob sua (aqui, dos educadores) responsabilidade ou não. Houve estranhamento, certo mal-estar e uma grande expectativa: os educadores não foram informados sobre o porquê do encontro. Era um desconforto necessário. Era uma experiência necessária, afinal, educadores fazem isso o tempo todo com seus educandos. Até quando?
            Tudo correu bem. Depois das primeiras palavras dos palestrantes (um policial a caráter e um ex-criminoso), o desconforto virou surpresa e a surpresa, novos pensamentos. A desconfiança virou possibilidade e entendimento. Mas, e ainda assim, houve educadores ausentes e os que agiram com descaso: estavam na escola, mas optaram por não participar. Não há aqui inocência de expectativa: todos iriam participar. Há, talvez, a esperança de que a ética falasse mais alto do que a tradição; ou que a delicadeza e o coleguismo fossem mais fortes do que uma visão de mundo tão rude. Neste momento não há como não julgar: estes educadores se anularam; anularam a possibilidade de discussão; de confronto, nunca de conflito; de vitalizar o papo com um ideário carregado de outras informações; anularam a possibilidade de crescimento de todos. Até quando?
            Fora isso, estes educadores discursaram, pelos corredores, sobre a inutilidade da proposta do projeto porque, segundo eles, pertencem à escola tradicional, gostam da aula tradicional, ministram aulas mesmo e que ‘essa coisa’ de projeto (ou promoção de palestras) é ação de quem não gosta de trabalhar sério. Triste, muito triste... Estou incomodada. Até quando?
            Esta fala não os desqualificam como profissionais de ensino. Anos de exercício do ensino, com suas dinâmicas tradicionais, não podem ser desconsideradas e nem descartadas. Mas se considerarmos que os educandos são outros, mais envolvidos com as novas tecnologias, com novas responsabilidades profissionais e experiências relacionais, mas se acreditando com poucas expectativas de futuro, como ficam estes educadores?
            É difícil entender que a questão dos desenvolvimentos dos mais variados projetos e/ou atividades didáticas diferentes criam opções ao ensinar e ao aprender? Aprender a aprender tornou-se primordial para estimular o aprender a ser, a conviver, e principalmente, a fazer. Não dá mais para se manter uma postura indiferente às mudanças. Não dá mais para, como São Tomé, ‘pagar para ver’ de longe. Este fechamento absoluto quanto à possibilidade de inovar pode provocar incompreensão nos educandos quanto à sua realidade e divergências entre os outros educadores quanto ao seu papel, fatos que, hoje, mais atrapalham, do que ajudam a transformação da escola, do ensino-aprendizagem, da educação em geral.
            Até quando?

Ms. Profa Claudia Nunes

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O BOM PROFESSOR SABE: TODO ALUNO É CAPAZ DE APRENDER

Por Luis Henrique Gurgel

Para o pesquisador Antonio Augusto Gomes Batista, todo bom professor deve ter consciência disso. A responsabilidade, de fato, é grande. Nossa capacidade de raciocinar, de se expressar e até de sonhar – em algum momento da vida de quem frequentou a escola – passa pelo trabalho de um professor de língua portuguesa. Mas quais são os dilemas e os desafios de quem é um dos principais responsáveis por nos ensinar a língua materna? Que conhecimentos, preocupações e sensibilidades eles e elas devem ter? Antonio, ou Dute, como é conhecido por amigos e alunos, estuda a formação e o perfil sociocultural desses professores e trata um pouco dessas questões nesta entrevista. Professor do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, assumiu em 2011 a Coordenadoria de Desenvolvimento de Pesquisas, do Cenpec.

No contexto da escola pública atual, quais devem ser as características do professor de língua portuguesa? A primeira característica importante – se pensarmos nos desafios vividos pela escola pública – é o professor acreditar que todos os alunos podem aprender, independentemente da origem social. Os alunos que vêm das camadas populares podem aprender, apesar de falarem num dialeto muito diferente daquele que os professores vão ensinar, de viverem num meio que, em muitos casos, está bem afastado da cultura letrada. Pesquisas mostram que todos os alunos das camadas populares são capazes de aprender. E o professor de português é especialmente importante porque ele vai dar os elementos das futuras aprendizagens. É por meio da língua que se dá a capacidade de pensar, de raciocinar, de se expressar. Um dos pontos em que se organiza o fracasso escolar está em torno do fenômeno linguístico. Nem sempre os cursos de letras – no caso da formação dos professores de português, do Fundamental e do Ensino Médio – costumam tratar desse tema; apenas as disciplinas de sociologia, às vezes, abordam a relação entre fracasso escolar e desigualdades sociais. Muitas vezes as disciplinas que são voltadas mais diretamente para as de didáticas do ensino de português, metodologia e outras não discutem temas como esse.

É essencial saber quais são as formas de organização didática mais adequadas aos alunos de meios populares. Vou dar um exemplo simples: o dever de casa. Professores e a opinião pública julgam que é algo natural, sempre fez parte da escola, portanto inquestionável. No entanto, o dever de casa supõe um conjunto de fatores: que o aluno, ao voltar para casa, tenha tempo e certa organização de espaço; que haja controle do tempo exercido pelos pais; que tenha autonomia na organização do seu próprio tempo. Isso nem sempre é possível em famílias que vivem em condições de muita vulnerabilidade social. Os aspectos didáticos estão relacionados aos aspectos sociológicos. Essa preocupação deveria estar presente nas decisões dos professores e na sua formação também. Às vezes, o ensino se dá por familiarização: o aluno vai aprendendo pelo contato mais assistemático, ele vai lendo, sem saber qual estratégia de leitura está aprendendo, ou, quando está escrevendo, quais procedimentos de escrita está aprendendo naquele momento. Há estudos que mostram, por exemplo, que o ensino mais organizado, em que o aluno sabe o que está aprendendo e em que o professor sabe o que está ensinando, é mais adequado, possibilita o sucesso dos alunos das camadas populares.

Que outros aspectos da formação do professor você destacaria? É fundamental que o professor domine aquilo que ensina. O professor de português ensina um objeto extremamente complexo, que é a língua. Durante muito tempo se pensou nesse objeto como sendo um conjunto de recursos linguísticos formais, as regras da língua. Importante é o professor conhecer bem as regras da variante culta, ou de prestígio da língua e ter boa sensibilidade para saber analisar as outras variantes do português. É essencial ter uma atitude aberta, não preconceituosa, com as variantes regionais e sociais. Outro ponto é que a leitura faça parte da sua vida como professor, seja leitor de jornal, revista, literatura, diferentes textos na internet, tenha práticas de leitura que sejam diversificadas, e ao mesmo tempo, escreva. O professor precisa dominar aquilo que ensina, criar um clima harmonioso na sala de aula, ter bom manejo de classe, como se dizia antigamente na cultura escolar.

Várias pesquisas mostram que a escola, muitas vezes, é impotente diante das desigualdades sociais. A escola termina por reproduzilas dentro dela. Ela transforma as desigualdades sociais em desigualdades escolares. As pesquisas sociológicas demonstram também que a escola é capaz de exercer um efeito próprio e, muitas vezes, diminuir essas desigualdades. São pesquisas que falam de um efeito escola ou de um efeito professor. O professor consegue administrar os tempos, organizar o ritmo da aula, criar um clima interativo, disciplinado, colaborativo, em que todos os alunos participam.

Na década de 1980 e, sobretudo, na de 1990 foram discutidas as tendências do pensamento pedagógico. Então, no curso de didática, em vez de refletir sobre as formas de organização do trabalho pedagógico, de como fazer, estudavam o que é a tendência da escola novista, a tendência marxista. A formação do professor tem que equilibrar teo ria e prática, discutir a didática, a prática do ensino de língua portuguesa. O professor precisa fazer a transposição dos princípios teóricos em procedimentos pedagógicos. Saber como organizar a sequência didática, as formas de intervenção no texto do aluno, os modos de fazer estudo de textos com os alunos.

E, aos professores que participam da Olimpíada, que orientações você daria? O diagnóstico é peçachave. Conhecer o que o aluno sabe e o que ele não sabe. Vou falar de leitura, que é a minha área de especialidade. Quando trabalhamos com a leitura, estamos trabalhando com duas coisas: a formação do gosto pela leitura e a formação mais ampla do leitor. É preciso distinguir o ponto de vista da leitura das habilidades do ponto de vista da formação do leitor. Conhecer como os alunos estão em matéria de leitura: o que eles gostam de ler, se gostam ou não gostam. Se eles têm livros, se não têm. É preciso conhecer as representações, inclinações e crenças que aquela turma, aquela família tem em relação à leitura. Meninos e meninas gostam de coisas diferentes. Os meninos acham a leitura supérflua, ler romance “feminiliza”. É em relação a essas crenças que o professor vai ter de trabalhar, conhecer as habilidades de leitura propriamente dita. E para o professor que está no Ensino Médio e no Fundamental hoje é muito importante verificar se os alunos sabem ler. Normalmente, chegam alfabetizados, em bora um ou outro possa não estar alfabetizado. Os professores, algumas vezes, falam que os alunos não estão alfabetizados, pois eles não leem com fluência. Os alunos sabem ler, têm a capacidade de ler, mas não têm a capacidade de ler com fluência. E, por isso, também não vão compreender. Eles leem com muita hesitação, devagar, não são capazes de apreender os elementos mais expressivos, perceber as unidades sintáticas. O esforço para fazer essa leitura é tão grande, que o cérebro não fica liberado para compreender o texto. A outra dimensão que ele vai ter de avaliar é da compreensão. Conhecer quais os problemas de compreensão de leitura que os alunos têm. Quais estratégias de compreensão que eles utilizam? Quais eles não utilizam? Quais os problemas de compreensão que vão encontrar? Os problemas que o professor irá encontrar, eu imagino, serão de alunos que têm mais dificuldade de apreender o sentido global, de fazer síntese de texto, porque o aluno compreende partes, mas não o todo.

E depois do diagnóstico? Aí é planejar. Definir o que ensinar, os objetivos, a avaliação e as metas que pretende alcançar. Vai utilizar, ou não, o livro didático? Qual a forma mais inteligente de utilizar o livro didático? Não utilizando o livro didático, que atividades o professor vai preparar para os alunos? Com que finalidade?

As mídias digitais – cursos virtuais, blogs, Twitter, Facebook, entre outros – demandam o domínio de diferentes linguagens, ferramentas e procedimentos. Como a escola pode utilizar bem as novas tecnologias? A escola sempre usou tecnologia: giz, lousa, caderno, mimeógrafo, retroprojetor. A escola – sobretudo a de massa – se move lentamente, tem limitações de recursos humanos e financeiros para acompanhar a velocidade das inovações tecnológicas. Uma coisa é ensinar a escrever no caderno; outra, ensinar a escrever no computador. Mudou o jeito de escrever, de fazer o rascunho, de fazer o planejamento do texto. Na leitura na internet os processos cognitivos envolvidos são diferentes. No livro o processo é mais linear, do início da página para o final da página. Na internet o processo é menos linear, por causa, entre outras coisas, da presença do hipertexto. A habilidade fundamental de um leitor hoje na internet é saber buscar, selecionar e avaliar a credibilidade de uma informação, se aquela fonte é confiável. O texto é multimodal, quer dizer, se apresenta em múltiplas linguagens. Você clica e lê o texto escrito; clica e ouve; clica e pode ver a fotografia, ou assistir a um vídeo. O país é desigual. Muitas cidades têm dificuldade de acesso, não há banda larga para todos. É um bem que está desigualmente distribuído. O acesso à língua escrita é outro bem que ainda não foi igualmente distribuído. Os índices de analfabetismo escolar são grandes. O Ceará, por exemplo, está terminando o Programa de Alfabetização na Idade Certa, para reduzir os índices de analfabetismo escolar. Para muitas escolas é possível investir em novas formas de comunicação; em outras, é preciso concentrar os investimentos na alfabetização. Os alunos, no século XXI, em algumas escolas, ainda copiam textos da lousa, do livro didático, enquanto em outras os meninos fotografam, com o celular, as tarefas solicitadas. Mesmo nas comunidades rurais os alunos veem televisão, têm acesso a DVD. O celular não pega, mas eles conhecem celular, porque têm celular com antena.

Como fica o ensino da literatura diante das novas tecnologias? Eu acho que está havendo uma diminuição da importância da cultura literária na escola, mas não é por causa da presença das novas tecnologias. É forte a presença da cultura científica, informativa, no mundo. Os dados do Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Alunos] mostram que em alguns países os jovens tendem a ler mais coisas que têm a ver com cultura científica. Internacionalmente, há uma tendência de diminuição da importância da cultura literária na formação desses jovens. Nos últimos vinte anos houve uma redução da presença de textos literários nos livros didáticos. No Ensino Médio essa redução está aparecendo, por exemplo, no Enem. Algumas universidades que adotaram o Enem pararam de exigir a leitura de livros, por exemplo, de literatura. Hoje, o discurso jornalístico é presença marcante, referência nos livros didáticos. É uma linguagem concisa, de parágrafos menores, as frases estão cada vez mais simples, cada vez menos subordinadas. Isso empobrece o ensino da língua. A literatura permite a você explorar a si mesmo, o mundo, construir sua subjetividade. Uma pesquisa recente, em regiões metropolitanas, mostrou que para boa parte dos jovens entrevistados, que estavam na escola, o professor não havia indicado a leitura literária. Isso é um fenômeno recorrente, que diminui a chance de aproximar os alunos da literatura.

Quais são suas perspectivas na recém-criada Coordenação de Desenvolvimento de Pesquisas, do Cenpec? A pesquisa desenvolvida no terceiro setor precisa ser sensível às necessidades de conhecimento de quem age sobre a realidade social, seja ela realidade escolar, assistencial, cultural. São cinco as diretrizes para a área. O primeiro ponto é que, como qualquer pesquisa, ela tem de ser uma pesquisa de excelência, tem que articular a ação na realidade social. A segunda diretriz importante é que esses projetos precisam responder às necessidades de conhecimento de quem está na ação. A terceira é estar sensível às necessidades de conhecimento, toda pesquisa tem sempre potencial de aplicação. A quarta, também relacionada às duas anteriores, é que ela precisa ser uma pesquisa que se comunica com rapidez e com eficiência, e se comunica não só para os pesquisadores, mas para além desse público, para os que atuam, agem sobre a realidade social, e são beneficiados por esses projetos, por exemplo, no caso de programas que são voltados para a formação de professores, como a Olimpíada. A comunicação é para as pessoas que atuam na Olimpíada e também para os próprios professores. Por último, a missão do Cenpec: influenciar no estabelecimento das políticas públicas voltadas para a nossa área de atuação. Em síntese, se pensarmos em termos de palavraschave, as cinco diretrizes são: sensibilidade ao contexto, qualidade acadêmica, realidade científica, comunicação e capacidade de influenciar políticas públicas.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

TEMPOS (PÓS) MODERNOS?

TICs NA EDUCAÇÃO: qual é o sentido?

Luiz Fernando Gomes é, atualmente, presidente da Associação Brasileira de Estudos de Hipertexto e Tecnologia Educacional (ABEHTE). Professor do programa de pós-graduação em Educação e responsável pelo Centro de Educação e Tecnologia da Universidade de Sorocaba (Uniso), Luiz está à frente da coordenação-geral do IV Encontro Nacional de Hipertexto e Tecnologias Educacionais, ocorrido nos dias 26 e 27 de setembro, em São Paulo. O evento reuniu cerca de 400 pesquisadores/professores de todo o país com o objetivo de discutir sobre a interface tecnologia e educação no contexto contemporâneo, em especial as redes sociais. Em meio a uma série de compromissos, o professor Luiz Fernando Gomes conversou com a revistapontocom. Direto e crítico, Luiz reflete sobre o real papel e possibilidades das tecnologias na sala de aula, sem marketing e milagres. “Não é tecnologia que muda, que melhora a educação. São as pessoas”, destaca.

Acompanhe:
revistapontocom – Pode-se dizer que o Brasil já avançou, de fato, na discussão entre TICs e educação? Luiz Fernando Gomes – O Brasil é imenso e é difícil pensar nele como um todo, especialmente quando se trata de educação. Mas, se pensarmos em termos de acesso à internet, não há dúvida que esse acesso aumentou, embora muito mais lentamente do que gostaríamos. O computador baixou de preço e vem aí uma banda larga por trinta e poucos reais (mas não vem a internet via rede elétrica, como foi prometido…). Não sei se vejo com bons olhos o simples aumento do acesso. Junto à tecnologia vem a ideologia, as linguagens e os usos esperados. Numa ponta, aumenta o acesso, mas noutra, disseminam-se formas hegemônicas de ser, ver e de estar no mundo. Gostaria que a popularização do acesso fosse acompanhada de propostas de letramento que auxiliassem as pessoas a se inserir no mundo desta “nova escrita” de forma mais crítica e consciente. Utilizar hardwares e softwares é mais fácil, digamos, do que lidar com as linguagens e com o potencial do meio digital. Parece-me que a escola ainda não conseguiu, em seu currículo, trabalhar/superar a fase do “adestramento” para uso de softwares e hardwares. É necessário, urgentemente, que ela comece a ver o computador, como meio/canal de comunicação, como um artefato cultural e também como uma cultura. Ele funciona dentro de um contexto social e cultural. Há que se ter uma visão mais ampla. Há que se considerar sempre o “outro”, que não é outro computador, mas uma pessoa, um cidadão. É a partir do outro que a escola deveria começar a trabalhar. Há muitas práticas, muitas tentativas. Os resultados são variados e contraditórios, o que não é um mal em si. Na impossibilidade de termos uma teoria única e absoluta sobre a relação entre tecnologia e educação, uns pesquisam, outros copiam, outros repetem e outros ignoram. É assim até hoje com certas teorias linguísticas, certas pedagogias. Também não há uma relação direta entre tecnologia e aprendizagem, de modo que não se pode acreditar que a tecnologia em qualquer situação e contexto será melhor do que sem a tecnologia. A tecnologia não é “do bem”, tanto quanto “o progresso nem sempre é para frente.” A exclusão social começa pela exclusão linguística, pois é na linguagem que o sujeito se estabelece e se (re)conhece. Portanto, a presença de computador, do laboratório, traz o acesso, mas não há necessariamente algum progresso social advindo desse acesso. Não há relação direta entre melhoria na qualidade de vida das pessoas que residem, por exemplo, na periferia, e o acesso a um quiosque de máquinas conectadas oferecido pelo governo. Educação é política. Pois educação é para a cidadania, é para a coletividade, é para a sociedade. Seus reflexos devem ser sentidos na sociedade em que se insere e em seu entorno. Não é a tecnologia que muda, que melhora a educação. São as pessoas.

revistapontocom – Então a presença das TICs não fazem tanta diferença assim na aprendizagem? Luiz Fernando Gomes – Com o conhecimento distribuído entre homens e máquinas é possível que nossas teorias de aprendizagem não dêem conta de como funciona a aprendizagem/cognição em situações de simbiose homem-máquina. Talvez o behaviorismo, o cognitivismo e o interacionismo não sejam suficientes. George Siemens, pesquisador canadense, defende o conectivismo. Mas ainda é uma teoria em construção. É razoável pensar em uma pessoa aprendendo com a outra, mas aprendendo com um computador é diferente. O conhecimento não está e não cabe na cabeça de uma única pessoa, ele está distribuído e a nossa noção do que é saber fica abalada. Saber é também, agora, saber encontrar, saber mobilizar. Claro que uma pessoa pode aprender frações sem computador. Mas se com um programa “X” essa aprendizagem for mais profunda, mais rápida, por que não utilizar o computador? Usamos, em cada época, em cada tempo, a tecnologia que nos é disponível. Não faz sentido rejeitá-la sem mais nem menos. A questão não é a tecnologia que se usa. A questão é a crença, diria mesmo fetiche, de que tudo é melhor com tecnologia. De que ela é a solução (ou mesmo parte dela). Não é. Mas, sim, pode ser. Fazem alarde do uso de notebooks, lousas digitais, celulares e outros tantos apetrechos nas escolas, mas isso é parte do marketing, do “ar de modernidade” que se quer passar. Pergunte ao filósofo Giorgio Agamben (ou acompanhe nosso seminário hipertexto 2011) e você verá que moderno é estar entre o não ainda e o já passou. Ele diz que nem a moda é moderna, pois os desenhos da coleção deste verão, na verdade, foram pensados, rascunhados, cerzidos e alinhavados na temporada de verão passado. As passarelas são do passado. Elas são fora de moda! E as modelos são démodé por definição.

revistapontocom – O senhor concorda que o hipertexto chegou meio que atropelando a escola? Ela nem havia ainda resolvido a sua relação com a mídia televisiva e já estava diante de um outro meio de comunicação: mais poderoso, impactante e revolucionário. Luiz Fernando Gomes – A escola é lenta, paquidérmica. Nesse modelo que vem de séculos, não cabe a agilidade dos tempos de hoje. Ela tem problemas contemporâneos e tenta resolvê-los com medidas modernas do passado. Suspende, chama os pais etc. Olha sempre para trás. Não consegue ensinar para o futuro, apenas para o passado. Essa escola não está sintonizada para lidar com a liquidez [modernidade líquida, conceito do sociólogo Zigmunt Bauman] do mundo e para o desmanche da solidez da modernidade. O que ocorre é que a tecnologia é veloz e voraz. Ela tem pressa e não tem permanência. Ela quer ser consumida em gadgets e softwares, mas não quer saciar. Nunca será o bastante. A tecnologia atropelará cada vez mais a pedagogia. Os educadores sequer clamavam por tecnologia. Ela invadiu o cotidiano escolar causando problemas, mudando, desestabilizando, modificando a arquitetura das salas, laboratórios (antes eram os de Química e de Biologia). Enquanto os professores discutiam se aquilo era bom ou ruim, os alunos já haviam decidido que, sem saber se é bom ou não, “é o que todo mundo está fazendo”, e ninguém quer ser um “outsider”. A escola parece que não se importa em ser…  A escola tentou (tenta) controlar a tecnologia com regulamentação sobre uso de celular em suas dependências, criar regras e criminalizar os usos e “abusos”. Ou a escola muda ou os alunos mudam… de escola. Os jovens ligam-se em comunidades virtuais, aprendem colaborativamente e desqualificam a escola. Mas há uma coisa importante: nós valemos pelo que recusamos. Rejeitar também é uma forma de ser crítico e cético. Com a tecnologia, a escola tem que ser, ao mesmo tempo, crítico e cético, mas não voltar às costas para o problema.

revistapontocom – Sempre quando se fala em TICs e educação, procuramos bons exemplos e práticas para serem, a medida do possível, reproduzidos em outras realidades. O senhor poderia indicar alguns exemplos e práticas? Luiz Fernando Gomes – As “boas práticas” são sempre boas em seus contextos. Uma boa aula na sala “A” pode ser um desastre na sala “B” no mesmo dia, dada pelo mesmo professor. Decidir o que é bom, útil, necessário, não é papel do professor, da diretoria ou de qualquer outro superior hierárquico. O que é bom deve ser decidido e negociado com a comunidade/bairro onde a escola se insere. Entram todos: moradores, alunos, pais, professores, diretores, auxiliares. A comunidade é o currículo. É em função dela que as práticas devem ser adotadas e no olhar dela é que as práticas devem ser analisadas e criticadas.

revistapontocom – De que forma o seminário Hipertexto vem contribuindo para a melhoria da relação ensino/aprendizagem das e nas escolas? Luiz Fernando Gomes – O professor da UFPE, Antonio Carlos Xavier, foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Estudos de Hipertexto e Tecnologia Educacional (ABEHTE) e seu primeiro presidente. Fez muito pela ABEHTE. Tem um trabalho consistente na área de estudos de hipertexto. A presidência da associação é itinerante: elege-se nova diretoria a cada dois anos. Uma das principais atividades da ABEHTE é a realização dos encontros nacionais. Os três já realizados foram coordenados pelas diretorias anteriores. Teremos, agora sob minha gestão, no IV Encontro mais de 400 pessoas dos quatro cantos do país. Isso mostra a quantidade de pesquisadores envolvidos com estudos sobre hipertexto e o cotidiano escolar. A quase totalidade dos trabalhos que será apresentado nos Grupos de Discussão refere-se a atividades desenvolvidas em sala de aula. São pesquisas de pesquisa de campo. O mesmo se pode dizer das oficinas e minicursos. Assim, embora a ciência não esteja vinculada à aplicação prática das teorias que desenvolve e dos processos que estuda, há uma relação muito consistente entre teoria e prática no caso dos estudos sobre hipertexto. Como os estudos sobre o hipertexto não são exclusividade de uma área do saber, o evento reúne pesquisadores das áreas de educação, lingüística, lingüística aplicada, comunicação, literatura e informática. Dentre eles muitos são professores também.

revistapontocom – O tema deste ano é a interface da escola com as redes sociais. Por quê? Luiz Fernando Gomes – A ideia original da internet era conectar computadores de forma a distribuir os dados e informações, de modo a protegê-los, pois em caso de um ataque (era o tempo da Guerra Fria) num servidor, outros teriam os mesmos dados e informações. Com o advento dos PCs, a rede aumentou, mas logo se percebeu que a rede era mais que uma conexão entre computadores, e sim entre pessoas. Com os programas tipo Orkut e Facebook, a ideia era conectar não mais pessoas isoladas, mas ligá-las por algo que tivessem em comum. A isso se chamou redes sociais. De fato, esses programas mencionados não são redes – o termo social é praticamente desnecessário – o homem vive em sociedade, é um ser social, então suas redes de relacionamento são sociais! Essas redes apenas potencializam a formação de redes. A rede somos nós. As pessoas que delas participam desde, bem claro, que haja ações realizadas por seus membros! Uma rede é mais que ter nomes de pessoas ligados ao seu perfil! A maioria das pessoas inscreve-se nas redes para estarem juntas, para aumentarem sua visibilidade e seu capital social. Torna-se um “must”. As pessoas se encontram nas redes de que fazem parte, se identificam nas “comunidades” e sentem-se pertencendo a algum “lugar”  ou “turma” como se dizia antigamente. Não importa muito se isso é bom ou ruim. Bom é estar junto. Esse é o hiperindividualismo [conceito do sociólogo Gilles Lipovetsky]. Mesmo que os objetivos sejam pessoais ou egoístas, as pessoas se inscrevem em comunidades. Interessante, pois comunidade indica ter algo em comum. Às vezes têm mesmo, mas pode ser também que o que haja de mais em comum entre eles seja o individualismo. Do mesmo modo que falamos sobre educação, as redes vão se formando. O conceito original se perde e logo vem outra novidade, sem que tenhamos digerido a de ontem. 

revistapontocom – Então o que podemos esperar no evento deste ano? Luiz Fernando Gomes – O evento tenta dar um passo além nessa discussão sobre as tais redes sociais. Propusemos como tema a discussão sobre os usos sociais da escrita (letramento) e do computador conectado e seus reflexos sobre as comunidades. Queremos discutir de que modo a tecnologia tem abalado ou provocado a escola no sentido de olhar além de seus conteúdos programáticos tradicionais e incluir neles o uso das linguagens verbal, audiovisual e verbovisual para, por exemplo, conectar pessoas e comunidades entre si. Entender como se dão os processos de letramento na educação não-formal, nas lan houses e quiosques e a cultura da transmídia. Esperamos que os pesquisadores voltem para suas instituições e salas de aula inspirados não apenas a inserir tecnologia no cotidiano escolar, mas dispostos a provocar mudanças profundas nos modos como nos relacionamos com a escola, com a educação e com a sociedade.



por MARCUS TAVARES

sábado, 3 de setembro de 2011

30 PROVÉRBIOS DA ERA DIGITAL


1. A pressa é inimiga da conexão.
2. Amigos, amigos, passwords à parte.
3. Antes só do que em chats da treta.
4. A arquivo dado não se olha o formato.
5. Diz-me que forum frequentas dir-te-ei quem és.
6. Para bom entendedor uma pass basta.
7. Não adianta chorar sobre arquivo apagado.
8. Em briga de e-namorados não se mete o rato
9. Aluno de informática não cola, faz backup.
10. Hacker que ladra não morde.
11. Mais vale um arquivo no HD do que dois a baixar.
12. Rato sujo limpa-se em casa.
13. Melhor prevenir do que formatar.
14. O barato sai caro. E lento.
15. Quando a esmola é demais, o santo desconfia que tem vírus em anexo.
16. Quando um não quer, dois não teclam...
17. Quem ama um 486, Pentium 5 lhe parece.
18. Quem muito clica seus males multiplica.
19. Quem com vírus infecta, com vírus será infectado.
20. Quem envia o que quer, recebe o que não quer.
21. Quem não tem banda larga caça com modem.
22. Quem nunca errou que aperte a primeira tecla.
23. Quem semeia e-mails colhe spams.
24. Quem tem dedo vai a Roma.com
25. Um é pouco, dois é bom, três é chat ou lista virtual.
26. Vão-se os arquivos, ficam os back-ups.
27. Diz-me que computador tens e dir-te-ei quem és.
28. Há dois tipos de pessoas na informática. Os que perderam o HD e os que ainda vão perdê-lo...
29. Uma impressora disse para outra: Essa folha é sua ou é impressão minha.
30. Na informática nada se perde, nada se cria.. Tudo se copia... E depois se cola.
Profa Ms Claudia Nunes