quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Lançamento "INCLUSÃO em Educação na FAETEC" (02/09 - ISERJ)


QUAL É O FUTURO DO ENSINO?

            Num conselho de classe, estou pensando: o advento do computador e das redes sociais virtuais de comunicação e informação está transformando mesmo a sociedade, o conhecimento, a cognição? Este é um advento que vem estimulando mesmo um repensar sobre as dinâmicas sociais (e cognitivas) em diferentes instâncias da sociedade? 
          Tenho lido tanta coisa afirmativa, animadora, fortificante ao trabalho do professor em termos de recursos tecnológicos virtuais na sala de aula que me surpreendo quando percebo grandes resistências e muitas desaprovações. Não há argumento que modifique e renove estes olhares, então só posso observar e (me) questionar: qual seria o motivo disso? Que reações quase instintivas seriam essas? Se todos querem maior dinamismo nas aulas e escola e acreditam que isso se deva ao aumento dos recursos disponibilizados, por que tantos senões a cada proposta de mudança? Inclusive por que tanta indiferença quanto a realização de atividades formativas na área da Informática educativa ou tecnologia educacional?
         No meio do conselho de classe, muitas falas vaidosas sobre performances pedagógicas afinal professor adora falar de como foi duro com o aluno e de como qualquer proposta é negada pelos alunos porque ‘eles não sabem nada’. Há silêncio nesses momentos por respeito ou ética, mas qualquer contraponto (fala em contrário) já nasce interrompido por brados incoerentes (e ninguém [se] escuta) ou pela desqualificação velada do profissional em questão. É quase uma terapia de grupo em que cada um quer (se) mostrar melhor do que o outro. É uma terapia onde a rigidez das atitudes relacionadas às dinâmicas educacionais e ao aluno é exposta como ação de sucesso ou ação a ser seguida. Essas atitudes são expostas e/ou consideradas o diferencial, o ‘pulo do gato’, a ser imposto ao aluno porque ‘ele só entende as coisas assim’.
            Há um mundo em globalização, há uma sociedade envolvida pelas novas tecnologias de informação e comunicação, há uma geração acessando ambientes presenciais e virtuais por prazer, entretenimento, relação e informação, mas no mundo do meu conselho de classe, há a permanência de uma retórica exclusiva, preconceituosa, tradicional e cheia de pequenos antolhos quanto ao fazer pedagógico e ao diálogo, hoje desafiante, junto aos alunos. São inteligências neglicenciando inteligências por desconhecimento, certa indiferença e muito descaso. Eu só observo...
            Dentre os três últimos tipos de atitude dos professores, sinceramente prefiro acreditar no desconhecimento, ou mesmo, no medo do desconhecido. E por causa do medo, todos sabemos, diferentes conquistas ou mudanças são muito atrasadas; por causa do medo, revisita-se o confortável, o já-sabido ou as múltiplas desculpas para não se dar o próximo passo. Por algum motivo, há o retardamento da possibilidade de ‘se ensinar diferente’. Diante do novo, pisa-se no freio da experimentação e procuramos desvios na estrada do ensino. Eu só posso observar...
            Num certo momento, a diretora solicita uma descrição das atividades do semestre que puderam ser avaliadas exceto as provas, ai, como dizem meus alunos, minha cabeça pira! Muitos professores deram prova e teste. Poucos professores diversificaram sua avaliações. E nenhum trabalhou interdisciplinarmente. Por que? Fico me perguntando o porquê disso por vários minutos. Piaget, Vigotsky, Wallon, Zabala, Freire, Dewey ou Kilpatrick não existem? Não precisam ser utilizados? São só teoria? Eu só observo...
Eu compreendo que os alunos são quase todos trabalhadores, estudam á noite e que as escolas se encontrem num bairro de média periculosidade, mas daí a destratar suas inteligências ou descartar possibilidade de revigorar suas auto-estimas ou mesmo notas, é duro de observar. Mas o que é mais contraditório são as variadas reclamações dos professores: alunos com pouco conteúdo, pobre no vocabulário, dificuldade na escrita, difícil no comportamento e na atenção, disperso e extremamente ligado ao que vê sem pensar. Impressionante: primeiro destratam e ignoram, depois reclamam e reclamam. Eu só observo...
Neste semestre experimentei fazer uma vernissage junto às turmas do 3º ano já que o conteúdo final eram as Vanguardas Européias. O resultado não foi excelente e nem beirou a perfeição, mas foi extremamente gratificante. A culminância foi apresentação das telas pintadas por cada grupo dentro da ‘sua’ vanguarda e um pouco de teoria sobre a mesma. Todo o processo foi avaliado dentro dos critérios de participação, comportamento, produção, organização e apresentação. No dia da vernissage foram convidadas duas professores: uma de Biologia e outra de Física. Ambas deveriam escutar e avaliar de 0 a 3 as apresentações.
Se no início houve um pouco de timidez, por fim todos estavam bem e se apresentando com mais desenvoltura. As professoras eram conhecidas na turma. Foi uma experiência excelente e ambas se sentiram bem acolhidas em suas avaliações. Na junção disso tudo, dentro de um ‘mapão’ pré-construído, as notas do 2º bimestre foram dadas à disciplina Literatura. Neste momento, fui observada...
Basicamente, depois de apresentadas as vanguardas e da separação dos grupos, os alunos deveriam: identificar novas informações sobre ‘seu assunto; organizar as informações mais relevantes à apresentação; filtrar as melhores imagens de ‘sua’ vanguarda; produzir uma tela com as características de ‘sua’ vanguarda; tirar conclusões sobre o assunto; e, por fim, comunicar este conjunto de atividades no dia da culminância. De novo, fui observada...
Sem graça, terminei minha apresentação e escutei a seguir: para que tanto trabalho? Agora fiquei assustada. A pergunta foi repetida por diversos professores. Como assim ‘para que tanto trabalho?’ Este é o meu trabalho! Sou responsável pela aprendizagem de vários alguéns e isso é importante. A ação de aprender através de um ‘ensinar’ diversificado e desafiante, pelo menos em alguns momentos do ano, é de minha responsabilidade. Se quero a promoção das cognições a patamares mais aprofundados tenho que oferecer ferramentas ou instrumentos contextualizados. Eu estou apenas pensando...
O conselho de classe acaba e vamos ao nosso recesso de meio de ano. Na direção do meu carro, novos pensamentos me incomodam. Provas e testes não seriam memorização? Como dar qualificação às informações apreendidas só agindo por memorização? Palavras como colaboração, mediação e interatividade seduzem por suas relações com uma prática contextualizada e/ou significativa. E isto dentro de uma ‘nova’ sala de aula; um outro ambiente de aprendizagem que possam, em principio, relativizar os usos do momento presencial e do momento virtual. Então por que manter a memorização? Eu só estou pensando...
Em casa, no meu quarto, com meus livros e Cds, chego a uma idéia: o ambiente influi nos comportamentos, nas atitudes e no resultado obtido nas avaliações. Mas para isso é necessário repensar vários itens: formação do professor; acesso docente às informações tecnológicas; postura da equipe pedagógica diante do professor ‘engessado’; releitura do significado de atividade docente na contemporaneidade; sentido da dinâmica de um conselho de classe; e, o ambiente apropriado para aprendizagem.
Enfim eu me pergunto, qual é o futuro do ensino?


Profa Ms Claudia Nunes

domingo, 21 de agosto de 2011

APRENDER A PENSAR

Fevereiro foi o mês das observações e das experiências. Os alunos, hoje, chegam carregados de informações. Mas ainda chegam às escolas como espectadores de um futuro incerto. Muitos já são alunos da vida, mas, ainda assim, como os outros, sentem faltas que não sabem explicar, sabem apenas que, na escola, seus objetivos serão alcançados com mais facilidade. Ali, pensam, ganharão instrumentos que facilitem suas vidas.

Na primeira semana, o encontro com várias disciplinas e vários professores é um choque sério. Muitos (pré)conceitos percorrem seus pensamentos: ‘ai, eu não sei escrever’, ‘puxa, nunca aprendi química direito’, ‘será que conseguirei resolver essas expressões todas?’, ‘nossa, é muita coisa, muitos trabalhos, muitas leituras’, etc. A expectativa dos alunos é atacada pelas obrigações escolares e por posturas docentes mais fechadas. Na escola, é preciso aprender cada especificidade com clareza, agilidade e coerência. Será?

A dinâmica é a seguinte: em disciplinas separadas em um ou dois tempos de 40min, as informações devem ser absorvidas (e memorizadas) de forma a capacitar os alunos aos testes e provas bimestrais. As cognições em processo são treinadas a terem apenas um objetivo: passar com nota azul (de 5,0 a 10,0) em cada bimestre. Não há mente que suporte isso! Não há aprendizagem que se amplie desta forma. Portanto, há uma mentalidade que, acredito, deve ser limada da escola: os alunos devem prestar a atenção, em silencio, aos muitos conceitos apresentados pelos docentes; desta forma ganham excelência, e passam. Escola é muito mais do que isso.

Ensinar é aprender junto. Aluno é parceiro do conhecimento. Professor é mediador da aprendizagem. Estas são pertinências que devem integrar as práticas de ensino a cada promoção do conhecimento. E neste ponto as ações ‘inter’, ‘multi’, ‘trans’- disciplinares são imprescindíveis. Não há mais espaço para ações isoladas de cada disciplina articulando conteúdos com temáticas diversas sem um mínimo de contextualização ou com outras disciplinas, ou com o próprio contexto do aluno. O usufruto dos conceitos de ‘compartilhamento’, ‘conexão’ e de ‘colaboração’, em tempos de novas tecnologias, por exemplo, precisam constar nas metodologias a serem avaliadas em cada atividade sugerida pelos docentes. 

Professores em equipe. Alunos em equipe. Criatividade em expansão. Como afirmam alguns autores, em projetos educacionais, onde as idéias anteriores estejam bem articuladas, o tempo para pensar e encontrar soluções precisa ser saboreado (refletido) junto. Mesmo diante de múltiplas vozes, o conhecimento demanda tempo, um espaço entre o encontro, memorização e utilização das informações. E neste contexto, não há acasos, inspirações ou coincidências em meio à formação do pensamento. Mais do que o currículo, aprender a pensar exige contextualização, emoção e trabalho, muito trabalho, fato que, por vezes, não se encontra em diferentes performances pedagógicas docentes.

Os alunos, ainda que não percebam ou não ajam como tal, têm expectativas e esperam ‘surpresas’ da escola; eles não querem ser passivos em seu próprio processo de aprender. Eles têm o que dizer. Eles querem se dizer. Eles necessitam (e precisam) participar. Por hábito ou costume, chegam à escola, querendo surpreender e serem surpreendidos. E a palavra ‘inovação’ é a grande senha para a diminuição, por exemplo, da evasão. Por que não? Evasão significa desinteresse, chatice, mesmice, e disso ele, aluno, quer fugir rápido.

Os docentes, como eles dizem, precisam estar antenados quanto a essa diferença discente e se experimentar em outro lugar, ou seja, precisam se assumir como mediadores da aprendizagem, não mais como transmissores de informações. E nesta mediação devem procurar afetar sua sala de aula com dinâmicas que construam uma relação melhor dos alunos com o próprio docente, com os conteúdos e com sua aprendizagem. Por conseguinte podem irromper, no imaginário discente, como interessantes, legais, confiáveis, parceiros. Toda ação docente é uma ação integralizadora das muitas formas de pensar e representar. 

Aprender a pensar ‘passa’ por se construir proximidades afetivas e cognitivas, mediadas por recursos diversos, dos mais antigos aos mais contemporâneos, com atenção às soluções encontradas. Mas como dissemos sempre quando realizamos reflexões sobre nosso cenário político: se isso demanda incentivo governamental, também demanda vontade docente. 

E ai? Ficamos como?

Profa Ms Claudia Nunes

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

MOTIVACIONAL - Filme O Gladiador


POR QUE ESCREVER?


            A escrita é uma subversão da realidade. As fissuras existentes entre as palavras tão bem encadeadas levantam questionamentos sobre os seus sentidos e os sentidos da mensagem. Entre uma palavra e outra, o leitor cria significados muito pessoais. Ou seja, a cada leitura de três palavras, acontece uma interpretação de acordo com o repertório intelectual de cada um. Semelhante às respirações mais profundas, continuamos passando o nosso olhar pelo papel e lendo, ininterruptamente, até porque o suporte livro ainda concentra todo o encantamento da vida diária. Se somos escritores ou não, a verdade é que, ao escrever, embutimos, nas palavras e em suas ligações semânticas, significados ponto a ponto, como se quiséssemos, antes de tudo, nos entender.
Toda a nossa literatura é um poço fundo de “quereres” guerreiros, estéticas múltiplas e possibilidades românticas que, segundo o poeta Tristan Tzara, em carta a Breton, pode ser resumida na seguinte afirmativa: “se escrevemos, é apenas por refúgio de todo ‘ponto de vista’. Não escrevo por profissão”. Eu também não! Alguns escrevem por fraqueza, outros para abreviar o tempo, outros ainda por pura exposição e outros ainda mais, por desejar a eternidade. Deve-se escrever, em princípio, para viver!
A ação de escrever deduz uma sedução e um estranhamento sobre a realidade ou quanto à própria existência. Logo, “Por que escrever?”, segundo diferentes autores, é uma questão tão complexa quanto perguntar “qual é o sentido da vida?”. Ambas não são perguntas a que possamos responder à queima-roupa. Ambas, por sinal, não são perguntas as quais precisamos responder. Apenas as vivemos por natureza. É o nosso processo de vida.
            Se escrevemos por obrigação (por exemplo, uma monografia) ou por vontade, de qualquer jeito, escrever amplia as percepções, age por confrontação quanto ao já sabido (senso comum) e suscita aprimoramento do próprio ato de escrever. É a memória sendo fortemente ativada. É a ficcionalidade causando deslumbramento sobre a observação cotidiana.
Alguns escritores aceitam o pedido do destino e se esvaem em letras naturalmente. É uma questão do gosto. Outros criam propostas de escritas, como forma de relacionamento com a realidade. Em todos um elã racional e emocional consigo e com o mundo. É uma questão profissional (acadêmica?). Em voz alta ou no silêncio do quarto, os “escritores” aceitam a magia da inspiração e do talento, e espalham seus imaginários em meio às nossas tantas formas simbólicas (letras).
A escrita, assim tem sua utilidade efetivada na socialização e na paixão. É aprendizagem, tem significado e jorra emoção. Mas também é possível escrever por divertimento, por alegria, até exaurir-se na criação de um traçado, às vezes, insólito, de tantas vidas e aventuras. Aceitar a aposta de escrever, depois que a memória for atingida por algo desconhecido (superior?), é passar o tempo escavando suas questões em profundidade até clarear as idéias, até entender-se.
De qualquer jeito criam-se encontros com complexos novelos em busca de desvendamento. Lya Luft, então, diz “escrevo para seduzir meus leitores que sejam cúmplices na inquietação fundamental, na busca de entender o mundo – e jamais o entenderemos.” O tempo todo, então, o escritor objetiva, em seu planejamento, “uma releitura dos valores familiares e sociais” de cada tempo, na intenção de esclarecer o próprio tempo. Para essa autora e tantos outros mais, a literatura “pode e deve ser lida como uma denúncia da hipocrisia, da superficialidade, da indiferença, da negligência e da mentira nas relações humanas, amorosas e familiares”. Em verdade, escrever é ratificar a idéia de que existimos.
            Não há, enfim, uma razão para escrever. Como tudo o que fazemos, é fundamental o acontecimento, qualquer evento cotidiano que nos incomode em qualquer nível ou aspecto. Este evento desequilibrante gera o impulso, ou seja, uma vontade de “falar”, de entender e de exposição, via explicação, do que nos aconteceu. Sartre, nesta hora, nos ajuda, dizendo: “o problema não é o que fizeram conosco, o problema é o que fazemos de nós com o que fizeram conosco.” Este impulso não tem natureza identificável, mas nos espanta, nos tira do prumo e, dependendo da formação, cria uma das mais tradicionais formas de esvaziamento de si: a escrita e, por conseqüência, o texto.
Sabemos que muitos se exprimem de diferentes maneiras como, por exemplo, pelo desenho, pela pintura, pela música, todas são linguagens cuja mensagem investe numa provocação à uma mudança tanto interior quanto exterior. Mas acordamos com Alexei Bueno: o prazer lúdico de combinar palavras e fazer arte, “livra-nos do egoísmo, praga suprema da espécie e forma geral de estupidez.” Escrever alivia nosso cérebro reptiliano, mais agressivo, violento e/ou pernicioso.
            Diante disso, leitor, quando for escrever seu post, artigo, monografia, dissertação ou tese, lembre-se: o cotidiano é seu melhor laboratório de idéias. Observe-o com atenção. E se pergunte: o que incomoda? Que ponto pode ser revisto? Que atitudes podem ser melhoradas? Que conceitos precisam ser repensados? Anote. Rascunhe. Converse. Ainda que o tempo seja curto e suas atividades semanais sejam muitas, aprecie o seu entorno fazendo silêncio de si mesmo. O resultado será uma escrita compromissada, coerente e de acordo com o seu movimento na vida.
E aí, seja feliz sempre! Força!

 Profa. Ms. Claudia Nunes
http://e-pesquisadora.blogspot.com