sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O BOM PROFESSOR SABE: TODO ALUNO É CAPAZ DE APRENDER

Por Luis Henrique Gurgel

Para o pesquisador Antonio Augusto Gomes Batista, todo bom professor deve ter consciência disso. A responsabilidade, de fato, é grande. Nossa capacidade de raciocinar, de se expressar e até de sonhar – em algum momento da vida de quem frequentou a escola – passa pelo trabalho de um professor de língua portuguesa. Mas quais são os dilemas e os desafios de quem é um dos principais responsáveis por nos ensinar a língua materna? Que conhecimentos, preocupações e sensibilidades eles e elas devem ter? Antonio, ou Dute, como é conhecido por amigos e alunos, estuda a formação e o perfil sociocultural desses professores e trata um pouco dessas questões nesta entrevista. Professor do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, assumiu em 2011 a Coordenadoria de Desenvolvimento de Pesquisas, do Cenpec.

No contexto da escola pública atual, quais devem ser as características do professor de língua portuguesa? A primeira característica importante – se pensarmos nos desafios vividos pela escola pública – é o professor acreditar que todos os alunos podem aprender, independentemente da origem social. Os alunos que vêm das camadas populares podem aprender, apesar de falarem num dialeto muito diferente daquele que os professores vão ensinar, de viverem num meio que, em muitos casos, está bem afastado da cultura letrada. Pesquisas mostram que todos os alunos das camadas populares são capazes de aprender. E o professor de português é especialmente importante porque ele vai dar os elementos das futuras aprendizagens. É por meio da língua que se dá a capacidade de pensar, de raciocinar, de se expressar. Um dos pontos em que se organiza o fracasso escolar está em torno do fenômeno linguístico. Nem sempre os cursos de letras – no caso da formação dos professores de português, do Fundamental e do Ensino Médio – costumam tratar desse tema; apenas as disciplinas de sociologia, às vezes, abordam a relação entre fracasso escolar e desigualdades sociais. Muitas vezes as disciplinas que são voltadas mais diretamente para as de didáticas do ensino de português, metodologia e outras não discutem temas como esse.

É essencial saber quais são as formas de organização didática mais adequadas aos alunos de meios populares. Vou dar um exemplo simples: o dever de casa. Professores e a opinião pública julgam que é algo natural, sempre fez parte da escola, portanto inquestionável. No entanto, o dever de casa supõe um conjunto de fatores: que o aluno, ao voltar para casa, tenha tempo e certa organização de espaço; que haja controle do tempo exercido pelos pais; que tenha autonomia na organização do seu próprio tempo. Isso nem sempre é possível em famílias que vivem em condições de muita vulnerabilidade social. Os aspectos didáticos estão relacionados aos aspectos sociológicos. Essa preocupação deveria estar presente nas decisões dos professores e na sua formação também. Às vezes, o ensino se dá por familiarização: o aluno vai aprendendo pelo contato mais assistemático, ele vai lendo, sem saber qual estratégia de leitura está aprendendo, ou, quando está escrevendo, quais procedimentos de escrita está aprendendo naquele momento. Há estudos que mostram, por exemplo, que o ensino mais organizado, em que o aluno sabe o que está aprendendo e em que o professor sabe o que está ensinando, é mais adequado, possibilita o sucesso dos alunos das camadas populares.

Que outros aspectos da formação do professor você destacaria? É fundamental que o professor domine aquilo que ensina. O professor de português ensina um objeto extremamente complexo, que é a língua. Durante muito tempo se pensou nesse objeto como sendo um conjunto de recursos linguísticos formais, as regras da língua. Importante é o professor conhecer bem as regras da variante culta, ou de prestígio da língua e ter boa sensibilidade para saber analisar as outras variantes do português. É essencial ter uma atitude aberta, não preconceituosa, com as variantes regionais e sociais. Outro ponto é que a leitura faça parte da sua vida como professor, seja leitor de jornal, revista, literatura, diferentes textos na internet, tenha práticas de leitura que sejam diversificadas, e ao mesmo tempo, escreva. O professor precisa dominar aquilo que ensina, criar um clima harmonioso na sala de aula, ter bom manejo de classe, como se dizia antigamente na cultura escolar.

Várias pesquisas mostram que a escola, muitas vezes, é impotente diante das desigualdades sociais. A escola termina por reproduzilas dentro dela. Ela transforma as desigualdades sociais em desigualdades escolares. As pesquisas sociológicas demonstram também que a escola é capaz de exercer um efeito próprio e, muitas vezes, diminuir essas desigualdades. São pesquisas que falam de um efeito escola ou de um efeito professor. O professor consegue administrar os tempos, organizar o ritmo da aula, criar um clima interativo, disciplinado, colaborativo, em que todos os alunos participam.

Na década de 1980 e, sobretudo, na de 1990 foram discutidas as tendências do pensamento pedagógico. Então, no curso de didática, em vez de refletir sobre as formas de organização do trabalho pedagógico, de como fazer, estudavam o que é a tendência da escola novista, a tendência marxista. A formação do professor tem que equilibrar teo ria e prática, discutir a didática, a prática do ensino de língua portuguesa. O professor precisa fazer a transposição dos princípios teóricos em procedimentos pedagógicos. Saber como organizar a sequência didática, as formas de intervenção no texto do aluno, os modos de fazer estudo de textos com os alunos.

E, aos professores que participam da Olimpíada, que orientações você daria? O diagnóstico é peçachave. Conhecer o que o aluno sabe e o que ele não sabe. Vou falar de leitura, que é a minha área de especialidade. Quando trabalhamos com a leitura, estamos trabalhando com duas coisas: a formação do gosto pela leitura e a formação mais ampla do leitor. É preciso distinguir o ponto de vista da leitura das habilidades do ponto de vista da formação do leitor. Conhecer como os alunos estão em matéria de leitura: o que eles gostam de ler, se gostam ou não gostam. Se eles têm livros, se não têm. É preciso conhecer as representações, inclinações e crenças que aquela turma, aquela família tem em relação à leitura. Meninos e meninas gostam de coisas diferentes. Os meninos acham a leitura supérflua, ler romance “feminiliza”. É em relação a essas crenças que o professor vai ter de trabalhar, conhecer as habilidades de leitura propriamente dita. E para o professor que está no Ensino Médio e no Fundamental hoje é muito importante verificar se os alunos sabem ler. Normalmente, chegam alfabetizados, em bora um ou outro possa não estar alfabetizado. Os professores, algumas vezes, falam que os alunos não estão alfabetizados, pois eles não leem com fluência. Os alunos sabem ler, têm a capacidade de ler, mas não têm a capacidade de ler com fluência. E, por isso, também não vão compreender. Eles leem com muita hesitação, devagar, não são capazes de apreender os elementos mais expressivos, perceber as unidades sintáticas. O esforço para fazer essa leitura é tão grande, que o cérebro não fica liberado para compreender o texto. A outra dimensão que ele vai ter de avaliar é da compreensão. Conhecer quais os problemas de compreensão de leitura que os alunos têm. Quais estratégias de compreensão que eles utilizam? Quais eles não utilizam? Quais os problemas de compreensão que vão encontrar? Os problemas que o professor irá encontrar, eu imagino, serão de alunos que têm mais dificuldade de apreender o sentido global, de fazer síntese de texto, porque o aluno compreende partes, mas não o todo.

E depois do diagnóstico? Aí é planejar. Definir o que ensinar, os objetivos, a avaliação e as metas que pretende alcançar. Vai utilizar, ou não, o livro didático? Qual a forma mais inteligente de utilizar o livro didático? Não utilizando o livro didático, que atividades o professor vai preparar para os alunos? Com que finalidade?

As mídias digitais – cursos virtuais, blogs, Twitter, Facebook, entre outros – demandam o domínio de diferentes linguagens, ferramentas e procedimentos. Como a escola pode utilizar bem as novas tecnologias? A escola sempre usou tecnologia: giz, lousa, caderno, mimeógrafo, retroprojetor. A escola – sobretudo a de massa – se move lentamente, tem limitações de recursos humanos e financeiros para acompanhar a velocidade das inovações tecnológicas. Uma coisa é ensinar a escrever no caderno; outra, ensinar a escrever no computador. Mudou o jeito de escrever, de fazer o rascunho, de fazer o planejamento do texto. Na leitura na internet os processos cognitivos envolvidos são diferentes. No livro o processo é mais linear, do início da página para o final da página. Na internet o processo é menos linear, por causa, entre outras coisas, da presença do hipertexto. A habilidade fundamental de um leitor hoje na internet é saber buscar, selecionar e avaliar a credibilidade de uma informação, se aquela fonte é confiável. O texto é multimodal, quer dizer, se apresenta em múltiplas linguagens. Você clica e lê o texto escrito; clica e ouve; clica e pode ver a fotografia, ou assistir a um vídeo. O país é desigual. Muitas cidades têm dificuldade de acesso, não há banda larga para todos. É um bem que está desigualmente distribuído. O acesso à língua escrita é outro bem que ainda não foi igualmente distribuído. Os índices de analfabetismo escolar são grandes. O Ceará, por exemplo, está terminando o Programa de Alfabetização na Idade Certa, para reduzir os índices de analfabetismo escolar. Para muitas escolas é possível investir em novas formas de comunicação; em outras, é preciso concentrar os investimentos na alfabetização. Os alunos, no século XXI, em algumas escolas, ainda copiam textos da lousa, do livro didático, enquanto em outras os meninos fotografam, com o celular, as tarefas solicitadas. Mesmo nas comunidades rurais os alunos veem televisão, têm acesso a DVD. O celular não pega, mas eles conhecem celular, porque têm celular com antena.

Como fica o ensino da literatura diante das novas tecnologias? Eu acho que está havendo uma diminuição da importância da cultura literária na escola, mas não é por causa da presença das novas tecnologias. É forte a presença da cultura científica, informativa, no mundo. Os dados do Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Alunos] mostram que em alguns países os jovens tendem a ler mais coisas que têm a ver com cultura científica. Internacionalmente, há uma tendência de diminuição da importância da cultura literária na formação desses jovens. Nos últimos vinte anos houve uma redução da presença de textos literários nos livros didáticos. No Ensino Médio essa redução está aparecendo, por exemplo, no Enem. Algumas universidades que adotaram o Enem pararam de exigir a leitura de livros, por exemplo, de literatura. Hoje, o discurso jornalístico é presença marcante, referência nos livros didáticos. É uma linguagem concisa, de parágrafos menores, as frases estão cada vez mais simples, cada vez menos subordinadas. Isso empobrece o ensino da língua. A literatura permite a você explorar a si mesmo, o mundo, construir sua subjetividade. Uma pesquisa recente, em regiões metropolitanas, mostrou que para boa parte dos jovens entrevistados, que estavam na escola, o professor não havia indicado a leitura literária. Isso é um fenômeno recorrente, que diminui a chance de aproximar os alunos da literatura.

Quais são suas perspectivas na recém-criada Coordenação de Desenvolvimento de Pesquisas, do Cenpec? A pesquisa desenvolvida no terceiro setor precisa ser sensível às necessidades de conhecimento de quem age sobre a realidade social, seja ela realidade escolar, assistencial, cultural. São cinco as diretrizes para a área. O primeiro ponto é que, como qualquer pesquisa, ela tem de ser uma pesquisa de excelência, tem que articular a ação na realidade social. A segunda diretriz importante é que esses projetos precisam responder às necessidades de conhecimento de quem está na ação. A terceira é estar sensível às necessidades de conhecimento, toda pesquisa tem sempre potencial de aplicação. A quarta, também relacionada às duas anteriores, é que ela precisa ser uma pesquisa que se comunica com rapidez e com eficiência, e se comunica não só para os pesquisadores, mas para além desse público, para os que atuam, agem sobre a realidade social, e são beneficiados por esses projetos, por exemplo, no caso de programas que são voltados para a formação de professores, como a Olimpíada. A comunicação é para as pessoas que atuam na Olimpíada e também para os próprios professores. Por último, a missão do Cenpec: influenciar no estabelecimento das políticas públicas voltadas para a nossa área de atuação. Em síntese, se pensarmos em termos de palavraschave, as cinco diretrizes são: sensibilidade ao contexto, qualidade acadêmica, realidade científica, comunicação e capacidade de influenciar políticas públicas.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

TEMPOS (PÓS) MODERNOS?

TICs NA EDUCAÇÃO: qual é o sentido?

Luiz Fernando Gomes é, atualmente, presidente da Associação Brasileira de Estudos de Hipertexto e Tecnologia Educacional (ABEHTE). Professor do programa de pós-graduação em Educação e responsável pelo Centro de Educação e Tecnologia da Universidade de Sorocaba (Uniso), Luiz está à frente da coordenação-geral do IV Encontro Nacional de Hipertexto e Tecnologias Educacionais, ocorrido nos dias 26 e 27 de setembro, em São Paulo. O evento reuniu cerca de 400 pesquisadores/professores de todo o país com o objetivo de discutir sobre a interface tecnologia e educação no contexto contemporâneo, em especial as redes sociais. Em meio a uma série de compromissos, o professor Luiz Fernando Gomes conversou com a revistapontocom. Direto e crítico, Luiz reflete sobre o real papel e possibilidades das tecnologias na sala de aula, sem marketing e milagres. “Não é tecnologia que muda, que melhora a educação. São as pessoas”, destaca.

Acompanhe:
revistapontocom – Pode-se dizer que o Brasil já avançou, de fato, na discussão entre TICs e educação? Luiz Fernando Gomes – O Brasil é imenso e é difícil pensar nele como um todo, especialmente quando se trata de educação. Mas, se pensarmos em termos de acesso à internet, não há dúvida que esse acesso aumentou, embora muito mais lentamente do que gostaríamos. O computador baixou de preço e vem aí uma banda larga por trinta e poucos reais (mas não vem a internet via rede elétrica, como foi prometido…). Não sei se vejo com bons olhos o simples aumento do acesso. Junto à tecnologia vem a ideologia, as linguagens e os usos esperados. Numa ponta, aumenta o acesso, mas noutra, disseminam-se formas hegemônicas de ser, ver e de estar no mundo. Gostaria que a popularização do acesso fosse acompanhada de propostas de letramento que auxiliassem as pessoas a se inserir no mundo desta “nova escrita” de forma mais crítica e consciente. Utilizar hardwares e softwares é mais fácil, digamos, do que lidar com as linguagens e com o potencial do meio digital. Parece-me que a escola ainda não conseguiu, em seu currículo, trabalhar/superar a fase do “adestramento” para uso de softwares e hardwares. É necessário, urgentemente, que ela comece a ver o computador, como meio/canal de comunicação, como um artefato cultural e também como uma cultura. Ele funciona dentro de um contexto social e cultural. Há que se ter uma visão mais ampla. Há que se considerar sempre o “outro”, que não é outro computador, mas uma pessoa, um cidadão. É a partir do outro que a escola deveria começar a trabalhar. Há muitas práticas, muitas tentativas. Os resultados são variados e contraditórios, o que não é um mal em si. Na impossibilidade de termos uma teoria única e absoluta sobre a relação entre tecnologia e educação, uns pesquisam, outros copiam, outros repetem e outros ignoram. É assim até hoje com certas teorias linguísticas, certas pedagogias. Também não há uma relação direta entre tecnologia e aprendizagem, de modo que não se pode acreditar que a tecnologia em qualquer situação e contexto será melhor do que sem a tecnologia. A tecnologia não é “do bem”, tanto quanto “o progresso nem sempre é para frente.” A exclusão social começa pela exclusão linguística, pois é na linguagem que o sujeito se estabelece e se (re)conhece. Portanto, a presença de computador, do laboratório, traz o acesso, mas não há necessariamente algum progresso social advindo desse acesso. Não há relação direta entre melhoria na qualidade de vida das pessoas que residem, por exemplo, na periferia, e o acesso a um quiosque de máquinas conectadas oferecido pelo governo. Educação é política. Pois educação é para a cidadania, é para a coletividade, é para a sociedade. Seus reflexos devem ser sentidos na sociedade em que se insere e em seu entorno. Não é a tecnologia que muda, que melhora a educação. São as pessoas.

revistapontocom – Então a presença das TICs não fazem tanta diferença assim na aprendizagem? Luiz Fernando Gomes – Com o conhecimento distribuído entre homens e máquinas é possível que nossas teorias de aprendizagem não dêem conta de como funciona a aprendizagem/cognição em situações de simbiose homem-máquina. Talvez o behaviorismo, o cognitivismo e o interacionismo não sejam suficientes. George Siemens, pesquisador canadense, defende o conectivismo. Mas ainda é uma teoria em construção. É razoável pensar em uma pessoa aprendendo com a outra, mas aprendendo com um computador é diferente. O conhecimento não está e não cabe na cabeça de uma única pessoa, ele está distribuído e a nossa noção do que é saber fica abalada. Saber é também, agora, saber encontrar, saber mobilizar. Claro que uma pessoa pode aprender frações sem computador. Mas se com um programa “X” essa aprendizagem for mais profunda, mais rápida, por que não utilizar o computador? Usamos, em cada época, em cada tempo, a tecnologia que nos é disponível. Não faz sentido rejeitá-la sem mais nem menos. A questão não é a tecnologia que se usa. A questão é a crença, diria mesmo fetiche, de que tudo é melhor com tecnologia. De que ela é a solução (ou mesmo parte dela). Não é. Mas, sim, pode ser. Fazem alarde do uso de notebooks, lousas digitais, celulares e outros tantos apetrechos nas escolas, mas isso é parte do marketing, do “ar de modernidade” que se quer passar. Pergunte ao filósofo Giorgio Agamben (ou acompanhe nosso seminário hipertexto 2011) e você verá que moderno é estar entre o não ainda e o já passou. Ele diz que nem a moda é moderna, pois os desenhos da coleção deste verão, na verdade, foram pensados, rascunhados, cerzidos e alinhavados na temporada de verão passado. As passarelas são do passado. Elas são fora de moda! E as modelos são démodé por definição.

revistapontocom – O senhor concorda que o hipertexto chegou meio que atropelando a escola? Ela nem havia ainda resolvido a sua relação com a mídia televisiva e já estava diante de um outro meio de comunicação: mais poderoso, impactante e revolucionário. Luiz Fernando Gomes – A escola é lenta, paquidérmica. Nesse modelo que vem de séculos, não cabe a agilidade dos tempos de hoje. Ela tem problemas contemporâneos e tenta resolvê-los com medidas modernas do passado. Suspende, chama os pais etc. Olha sempre para trás. Não consegue ensinar para o futuro, apenas para o passado. Essa escola não está sintonizada para lidar com a liquidez [modernidade líquida, conceito do sociólogo Zigmunt Bauman] do mundo e para o desmanche da solidez da modernidade. O que ocorre é que a tecnologia é veloz e voraz. Ela tem pressa e não tem permanência. Ela quer ser consumida em gadgets e softwares, mas não quer saciar. Nunca será o bastante. A tecnologia atropelará cada vez mais a pedagogia. Os educadores sequer clamavam por tecnologia. Ela invadiu o cotidiano escolar causando problemas, mudando, desestabilizando, modificando a arquitetura das salas, laboratórios (antes eram os de Química e de Biologia). Enquanto os professores discutiam se aquilo era bom ou ruim, os alunos já haviam decidido que, sem saber se é bom ou não, “é o que todo mundo está fazendo”, e ninguém quer ser um “outsider”. A escola parece que não se importa em ser…  A escola tentou (tenta) controlar a tecnologia com regulamentação sobre uso de celular em suas dependências, criar regras e criminalizar os usos e “abusos”. Ou a escola muda ou os alunos mudam… de escola. Os jovens ligam-se em comunidades virtuais, aprendem colaborativamente e desqualificam a escola. Mas há uma coisa importante: nós valemos pelo que recusamos. Rejeitar também é uma forma de ser crítico e cético. Com a tecnologia, a escola tem que ser, ao mesmo tempo, crítico e cético, mas não voltar às costas para o problema.

revistapontocom – Sempre quando se fala em TICs e educação, procuramos bons exemplos e práticas para serem, a medida do possível, reproduzidos em outras realidades. O senhor poderia indicar alguns exemplos e práticas? Luiz Fernando Gomes – As “boas práticas” são sempre boas em seus contextos. Uma boa aula na sala “A” pode ser um desastre na sala “B” no mesmo dia, dada pelo mesmo professor. Decidir o que é bom, útil, necessário, não é papel do professor, da diretoria ou de qualquer outro superior hierárquico. O que é bom deve ser decidido e negociado com a comunidade/bairro onde a escola se insere. Entram todos: moradores, alunos, pais, professores, diretores, auxiliares. A comunidade é o currículo. É em função dela que as práticas devem ser adotadas e no olhar dela é que as práticas devem ser analisadas e criticadas.

revistapontocom – De que forma o seminário Hipertexto vem contribuindo para a melhoria da relação ensino/aprendizagem das e nas escolas? Luiz Fernando Gomes – O professor da UFPE, Antonio Carlos Xavier, foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Estudos de Hipertexto e Tecnologia Educacional (ABEHTE) e seu primeiro presidente. Fez muito pela ABEHTE. Tem um trabalho consistente na área de estudos de hipertexto. A presidência da associação é itinerante: elege-se nova diretoria a cada dois anos. Uma das principais atividades da ABEHTE é a realização dos encontros nacionais. Os três já realizados foram coordenados pelas diretorias anteriores. Teremos, agora sob minha gestão, no IV Encontro mais de 400 pessoas dos quatro cantos do país. Isso mostra a quantidade de pesquisadores envolvidos com estudos sobre hipertexto e o cotidiano escolar. A quase totalidade dos trabalhos que será apresentado nos Grupos de Discussão refere-se a atividades desenvolvidas em sala de aula. São pesquisas de pesquisa de campo. O mesmo se pode dizer das oficinas e minicursos. Assim, embora a ciência não esteja vinculada à aplicação prática das teorias que desenvolve e dos processos que estuda, há uma relação muito consistente entre teoria e prática no caso dos estudos sobre hipertexto. Como os estudos sobre o hipertexto não são exclusividade de uma área do saber, o evento reúne pesquisadores das áreas de educação, lingüística, lingüística aplicada, comunicação, literatura e informática. Dentre eles muitos são professores também.

revistapontocom – O tema deste ano é a interface da escola com as redes sociais. Por quê? Luiz Fernando Gomes – A ideia original da internet era conectar computadores de forma a distribuir os dados e informações, de modo a protegê-los, pois em caso de um ataque (era o tempo da Guerra Fria) num servidor, outros teriam os mesmos dados e informações. Com o advento dos PCs, a rede aumentou, mas logo se percebeu que a rede era mais que uma conexão entre computadores, e sim entre pessoas. Com os programas tipo Orkut e Facebook, a ideia era conectar não mais pessoas isoladas, mas ligá-las por algo que tivessem em comum. A isso se chamou redes sociais. De fato, esses programas mencionados não são redes – o termo social é praticamente desnecessário – o homem vive em sociedade, é um ser social, então suas redes de relacionamento são sociais! Essas redes apenas potencializam a formação de redes. A rede somos nós. As pessoas que delas participam desde, bem claro, que haja ações realizadas por seus membros! Uma rede é mais que ter nomes de pessoas ligados ao seu perfil! A maioria das pessoas inscreve-se nas redes para estarem juntas, para aumentarem sua visibilidade e seu capital social. Torna-se um “must”. As pessoas se encontram nas redes de que fazem parte, se identificam nas “comunidades” e sentem-se pertencendo a algum “lugar”  ou “turma” como se dizia antigamente. Não importa muito se isso é bom ou ruim. Bom é estar junto. Esse é o hiperindividualismo [conceito do sociólogo Gilles Lipovetsky]. Mesmo que os objetivos sejam pessoais ou egoístas, as pessoas se inscrevem em comunidades. Interessante, pois comunidade indica ter algo em comum. Às vezes têm mesmo, mas pode ser também que o que haja de mais em comum entre eles seja o individualismo. Do mesmo modo que falamos sobre educação, as redes vão se formando. O conceito original se perde e logo vem outra novidade, sem que tenhamos digerido a de ontem. 

revistapontocom – Então o que podemos esperar no evento deste ano? Luiz Fernando Gomes – O evento tenta dar um passo além nessa discussão sobre as tais redes sociais. Propusemos como tema a discussão sobre os usos sociais da escrita (letramento) e do computador conectado e seus reflexos sobre as comunidades. Queremos discutir de que modo a tecnologia tem abalado ou provocado a escola no sentido de olhar além de seus conteúdos programáticos tradicionais e incluir neles o uso das linguagens verbal, audiovisual e verbovisual para, por exemplo, conectar pessoas e comunidades entre si. Entender como se dão os processos de letramento na educação não-formal, nas lan houses e quiosques e a cultura da transmídia. Esperamos que os pesquisadores voltem para suas instituições e salas de aula inspirados não apenas a inserir tecnologia no cotidiano escolar, mas dispostos a provocar mudanças profundas nos modos como nos relacionamos com a escola, com a educação e com a sociedade.



por MARCUS TAVARES

sábado, 3 de setembro de 2011

30 PROVÉRBIOS DA ERA DIGITAL


1. A pressa é inimiga da conexão.
2. Amigos, amigos, passwords à parte.
3. Antes só do que em chats da treta.
4. A arquivo dado não se olha o formato.
5. Diz-me que forum frequentas dir-te-ei quem és.
6. Para bom entendedor uma pass basta.
7. Não adianta chorar sobre arquivo apagado.
8. Em briga de e-namorados não se mete o rato
9. Aluno de informática não cola, faz backup.
10. Hacker que ladra não morde.
11. Mais vale um arquivo no HD do que dois a baixar.
12. Rato sujo limpa-se em casa.
13. Melhor prevenir do que formatar.
14. O barato sai caro. E lento.
15. Quando a esmola é demais, o santo desconfia que tem vírus em anexo.
16. Quando um não quer, dois não teclam...
17. Quem ama um 486, Pentium 5 lhe parece.
18. Quem muito clica seus males multiplica.
19. Quem com vírus infecta, com vírus será infectado.
20. Quem envia o que quer, recebe o que não quer.
21. Quem não tem banda larga caça com modem.
22. Quem nunca errou que aperte a primeira tecla.
23. Quem semeia e-mails colhe spams.
24. Quem tem dedo vai a Roma.com
25. Um é pouco, dois é bom, três é chat ou lista virtual.
26. Vão-se os arquivos, ficam os back-ups.
27. Diz-me que computador tens e dir-te-ei quem és.
28. Há dois tipos de pessoas na informática. Os que perderam o HD e os que ainda vão perdê-lo...
29. Uma impressora disse para outra: Essa folha é sua ou é impressão minha.
30. Na informática nada se perde, nada se cria.. Tudo se copia... E depois se cola.
Profa Ms Claudia Nunes