Á
Profa. Nadia Riche
Em todo ano o
segundo semestre tem dois clímaxes: agosto e dezembro. Agosto nunca acaba.
Impressionante como um mês pode ser tão longo. Além disso, carrega uma
simbologia negativa que o senso comum acredita piamente: “Agosto? Mês de
desgosto, argh!”. Ainda assim, também se sabe que, quando agosto passa,
basicamente estamos no Natal. Os deuses aceleram o tempo e os meses seguintes
quase que se sobrepõem. Setembro, outubro e novembro são meses das arrumações,
finalizações, limpezas, reencontros, resultados, fechamentos, tudo em geral. As
lixeiras e os lixões ficam abarrotados de todos os nossos instantes de posse e
gozo. Setembro, outubro e novembro são meses em que se fermentam os desejos que
serão explicitados em simpatias, mandingas, pensamentos positivos, oferendas
etc., no mês de Dezembro, em diversos mares, terreiros, “quartinhos”, igrejas,
reuniões etc. Três meses em que o religioso (no sentido apenas de religar)
abastece todas as suspeitas de que: conquistas? como dizia minha avó: só para o
ano! Casa, família, amigos e trabalho começam a se caracterizar como
territórios das metas que serão estabelecidas somente no ano que vem. Três
meses em que há reflexões sobre o que se conseguiu e, de outra parte, por que
não se conseguiu, os resultados sonhados.
Aí surge
Dezembro, o Rei da Festa! Esse é o mês (para a maioria) das novidades, dos
“pontos finais”, das avaliações pessoais e profissionais, de reavaliar
resultados parciais ou nulos, dos perdões, das saudades, das festas e dos
presentes. Dezembro é o mês em que presentear visibiliza TODAS as pessoas. Os
pensamentos pensam pessoas! Mas também é o mês em que novos planos são
focalizados. Novas metas são criadas. Novos planejamentos são elaborados. Não
sei bem o que acontece, mas o ar desse mês tem uma aura tão otimista e franca
que os objetivos nunca apontam para o fracasso. Nesse se pensa na hora, se e
quando acontecer, e aí, dá-se um jeito! O que se quer é sucesso!
Como pode haver
fracasso, se o mês de dezembro é o início da grande virada? Todos querem a
grande virada. Mas o que seria isso? Depende do foco e da concentração de cada
um. Todo objetivo bem planejado precisa de um trabalho incisivo e insistente no
ponto do desejo. Mês de dezembro enfim, é o mês dos projetos de vida!
Mas há uma apreensão que cerca essa certeza: como fazer dar certo? como chegar
ao ponto-destino? Quase como uma filosofia de bar, dizemos: uma coisa é uma
coisa, outra coisa é outra coisa. Melhorando: uma coisa é a teoria - projeto de
pesquisa -, outra coisa é a prática - projeto de implementação. Mas para ambos
(projetos e perguntas) há chaves de resposta, e essas são: simplicidade,
clareza, adequação, contexto e, principalmente, regularidade. Sem serem
lineares, essas são as chaves em que se concentra a esperança dos aclamados
“dias melhores”. Recursos para isso? Observação, diálogo, humildade,
criatividade, relações, silêncios, leituras e concentração: é o tão
famoso “depende de nós”. Coincidência, destino, intuição, sorte são elementos
consideráveis, mas nunca fiéis a todos os gostos.
Os projetos de
vida criam alvos aos quais precisamos atingir a partir de mínimas regras, senão
não passam/passarão de meros desejos otimistas. Do projeto (vínculo com um
futuro incerto e querido) parte-se para o planejamento. Os “sonhos de uma noite
de verão” podem se transformar em momentos de conquista pessoal ou
profissional, se bem planejados. Aí é preciso raciocinar. Nada pode ser
mirabolante. Nada precisa ser “a ultima moda de Paris”. Não há a necessidade de
se reinventar a Roda a toda hora. Aqui é preciso ter e manter “os pés no chão”.
No singular e pessoal chão da própria vida! O contexto precisa ser conhecido,
referendado e ultrapassado. Essa é nossa conseqüência e, logo, nossa
responsabilidade, diante das propostas que nos impomos a cada “virada de ano”.
Sugestão? Papel e lápis! Nada de caneta! Rasuras sujam a beleza dos sonhos.
Papel e lápis mesmo! É preciso sentir o que é real, mesmo apagando-se alguma
coisa aqui e ali. Na era da imagem, tudo o que for palpável embute segurança,
valor e compromisso ao que se quer atingir, logo: papel e lápis! Há um ano
inteiro para atravessar. São 365 dias em que é possível ultrapassar o nível das
promessas. Papel e lápis para contratar
o tempo a nosso favor. Papel e lápis para planejar, ou seja, raciocinar sobre
os limites a serem revistos e ultrapassados diante do conhecimento da realidade
que se quer transformar, conquistar ou mesmo reinventar. Erro comum: não se
acreditar na presença das dificuldades.
Desde que nos
firmamos em duas pernas, superamos dificuldades. A nossa ação no mundo é essa!
Inteligência, aprendizagem, criatividade, amor, amizade, afeto, tudo se realiza
por superação! Cada passo foi/é dado pela emergência em solucionar uma dada
situação ou necessidade. Ao sabor do vento, vergamos para todos os lados quando
o fardo, apresentado a nós, pelas surpresas da vida, é duro ou pesado de
sustentar, mas, ainda com os pés no chão, não nos distanciamos de nossas
metas/objetivos. Sendo assim, planejar é criar os passos pelos quais
realizaremos nossos tão sonhados objetivos ainda que tenhamos que caminhar
através de desvios e/ou atalhos. Planejar é oportunizar a capacidade de...
emagrecer, casar, estudar, passar, viver, amar, ganhar.
Se Dezembro é o mês dos projetos
(pinçados da imaginação), Janeiro é o mês dos planejamentos: momento em que
procedimentamos todas as nossas ações dentro de um cronograma. É o mês em que a
pergunta “como vou fazer isso?” principia a resposta aos projetos de vida.
Projeto imaginado. Planejamento elencado. Vamos aos objetivos! E esses têm
parceiros-siamêses: os métodos. Alcançar objetivos exige, além de incentivos,
métodos! Que caminhos seguiremos para alcançar os objetivos? Esses são os
métodos! Preparar-se para o novo ano é, em primeiro lugar, pensar em como
superar dificuldades (as próprias) do ano anterior. Todo método é ação de superação e descoberta.
Projetar supõe. Planejar prevê. Método previne. Incenso, banho de rosa branca,
passes, pular sete ondas no mar, vestir branco, etc. tudo pode ajudar no
equilíbrio do corpo e da mente. Mas para “firmar o ponto” do método, é preciso,
além da fé, coerência, pesquisa e muita auto-estima!
Quando
entendemos que todos os eventos cotidianos estão interligados, entendemos
também que, somente com atividade, dedicação, disciplina e objetividade, os
resultados se apresentarão de maneira efetiva. E isso se dá harmonizando a
tríade: planejamento, objetivo e método! Portanto, métodos são ações realistas
que, além de justificarem o planejamento, põem em funcionamento o projeto e os
objetivos a ele relacionados. A metodologia administra os passos de superação
de cada etapa até o alcance dos objetivos. A metodologia é a instrumentalização
dos projetos ao encontro com seus objetivos. Em Janeiro, a metodologia encabeça
o ritmo dos procedimentos enumerados no planejamento. Essa é a preparação
“científica” para o novo ano. Essa é a perspectiva criativa e trabalhosa do
encontro com os “louros da vitória” pessoal e profissional.
Em vista disso,
Dezembro e Janeiro são os meses da crença no sucesso. Há uma sensação de que,
como uma urna eleitoral, tiramos a zerésima do ano anterior, esvaziamos a
máquina dos votos e a (nos) reprogramamos para o próximo ano. Não há a
necessidade de espelhos que conduzam nossas vontades-bebês. Todos os planos
visam a valorização da auto-estima e acrescentam nela o elemento prazer. Todas
as estratégias são de guerrilha para a implementação dos projetos, no panorama
real dos planejamentos, a partir de planos de ação que se objetivam ao longo de
métodos proporcionais ao nosso campo de batalha anual. Desânimo, ansiedade,
indiferença, ostracismo, ilustram apenas a perda momentânea de certas
habilidades, afinal sofremos as influências dos acontecimentos de nossos
ambientes e de nossas afinidades. Os insucessos serão, com isso, os buracos
negros de nossa perseverança e precisaremos de suas presenças para saber onde e
como fincar nosso pé no horizonte de um novo dia/tempo/lugar. E eles acontecerão
mesmo! Batalhas podem ser perdidas (processos de aprendizagem
descontextualizados), nunca a Guerra (conhecimento, saber)! Então, o que cabe
aqui e em nós? Reajustes! Ou seja, cabe a escrita de novos contratos com
o futuro, pit-stops cujas ações incidirão sobre o progresso de cada
passo estipulado no planejamento anual, na medida em que se alterem algumas
tarefas listadas na metodologia.
Não há fórmulas
alopáticas nem homeopáticas para o alcance das metas ou do sucesso. Não há como
não cometer erros, mas eles devem e precisam ser novos, ou seja, resultantes de
todo um processo de projeção no sucesso patrocinado por mudanças eventuais em
algumas “regras do jogo”. Isso é viver! E o novo ano, limitado dentro de um
calendário ou dentro de um cronograma, não nos faz prisioneiros do amanha, nos
faz apenas inventores, cada vez mais criativos, de maneiras de desenvolver e
manter nossa humanidade.
Iniciem seus
projetos! Atitude em seus planejamentos! Postura com seus métodos e objetivos!
E muito sucesso em 2006!
Ah, esqueci:
cuidado com o orçamento hein!!!
Claudia Nunes 2007