domingo, 9 de outubro de 2011

POR ONDE COMEÇAR?

Semana de provas na escola. Educandos ansiosos e agitados. Estamos fechando o 3º bimestre. Nós, educadores, temos que aplicar as provas dos colegas. Hoje, sexta-feira, eu estou aplicando a prova de Biologia. O silêncio da sala me deixa observar e pensar. Estou num momento tradicional do ensino: educandos enfileirados e realizando avaliação individual sem consulta. Depois de 20min percebo que cresce a agitação. Avaliações que demandam mais de um hora ou dois tempos de 40min para sua solução são problemáticas para eles. Depois de 20min de silencio e leitura, estão dispersos. Depois de 20 min, e ao perceberem que a prova tinha 08 questões, eles já se sentem cansados, começam a pensar em sair rápido e/ou se estimulam a olhar para a prova do amigo. Depois de 20 min, a escola tradicional vai ao chão. Por que manter este tipo de avaliação tão rígida?
O mundo sugere mais flexibilidade nos conceitos, nas relações, nos ambientes de aprendizado, nas performances profissionais mas, na escola, a prevalência ainda é de estudos quase decorebas, muito sem criatividade. Não quero dizer com isso que devemos eliminar este recurso avaliativo, mas no conceito de avaliação já existem muitas maneiras de verificar o conjunto de aprendizagens (habilidades) que os educandos adquiriram ao longo de um bimestre. Nas formas de avaliação também deve haver flexibilidade.
            O tempo passa e vários educandos, depois de 40 min, já estavam com a prova pronta. Coisas que aprendi quando também estudante não estão mais presentes neste momento: ler a prova com calma, fazer um pequeno rascunho sobre as questões dissertativas, não rasurar questões de múltipla escolha, organizar a realização da prova dentro do tempo, reler a prova com cuidado, realizar a prova à caneta etc. O tempo de reflexão é mínimo porque a cabeça já está em outros lugares ou pessoas prazerosos do fim de semana. Olham as perguntas para saber o que procurar para responder. Dificilmente lêem enunciados, preferindo perguntar diretamente ao professor. Muitos problemas com as palavras e a gramática. Que tecnologias dariam conta disso?
            Neste conjunto de questionamentos, as novas tecnologias, como recursos didáticos, poderiam resgatar a plasticidade cognitiva dos educandos, caso os educadores abrissem outra tecnologia ao novo tempo: o cérebro. Como primeira tecnologia criativa humana, o cérebro ganhou elasticidade em diferentes espaços e objetos. É o cérebro que deseja se comunicar e para tal se adequa/se adapta aos contextos e às grandes revoluções do mundo humano. Suas extensões, como o papel, o lápis, o livro, os meios de comunicação e as ferramentas virtuais e digitais estão plenamente disponíveis e vem causando fortes transformações na sociedade.
            A população de nativos digitais (nascidos na era da informática – década de 80 em diante) tem chegado às nossas escolas com o cérebro diferente. A tecnologia humana maior está modificada, ainda que as expectativas em torno das ações da escola sejam iguais. Eles estão diferentes. São frutos de uma sociedade em crise, em revolução, emergente, em mudança radical. Uma sociedade que tem seus valores, regras e limites em processo de revitalização. E se tudo está flexível ou líquido, os educandos se vêem inseguros, sozinhos, mas fortemente exigidos em seu processo relacional e formativo.
          Estou numa sala de aula, num momento de avaliação tradicional, em que duas turmas de 1º ano do Ensino Médio, noite, se preparam para construir mais um resultado à sociedade. Neste momento, a ansiedade e agitação sugerem mais desentendimento sobre o momento do que descompromisso com os estudos. Será que, pela primeira vez, eu os estou olhando seriamente? A faixa etária está misturada, mas os comportamentos são semelhantes. Eles têm que passar. Eles precisam de nota. Sua preocupação é com a nota. Mas seus cérebros realizam a avaliação como algo desagradável do qual devem se descartar rápido. E essa é a comunicação geral para mim. Cadê o respeito ás formas de conhecimento e entretenimento deles? Qual seria meu papel nesta seara?
            Sem querer, de repente, um celular toca. Eu tenho calafrios. Sem nenhum incomodo, o educando atende o celular, ainda que peça desculpas. Como assim? Não discuto o problema do celular sempre ligado em sala, discuto a presença real das diferentes tecnologias na vida dos educandos e eu tomando conta de uma avaliação tradicional. Não demos conta das dificuldades de aprendizagem, criamos outras. Não demos conta da diversidade, misturamos tudo. Não demos conta do papel e do analfabetismo, e já temos analfabetismo funcional e livros digitais. Não demos conta da saúde e da educação em geral, informatizamos a escola. Seriam boas essas contradições para estes educandos?
      Envolvidos em muitos problemas escabrosos em família ou particularmente, a tecnologia cérebro já quase nasce comprometida. Se lemos os jornais todos os dias, já observamos que tudo falta para a grande maioria dos cidadãos cariocas, quiça meus educandos que vivem em comunidades de alta e média periculosidade em torno da escola. Mesmo assim, em muitos casos, eles têm celulares de alta tecnologia, tem e-mail (apesar da maioria não ter computador em casa) e acessam rotineiramente muitas redes sociais virtuais. ‘Atrasados’ em termos cognitivos, almejam ardorosamente laptops, Ipods, Mp3 e agora os tablets. Almejam novos suportes, mas enfrentam uma luta acirrada com o papel, o lápis, a caneta, a leitura, o resumo, a dissertação, os enunciados.
            São 21h e tenho em sala 04 educandos. E meus pensamentos não param. Eles foram à Bienal, se sentiram prestigiados pela escola, passaram horas convivendo com livros e atividades, e voltaram para casa com livros. Com livros? Que loucura! Não são eles sempre apontados como os que não gostam de ler? O que houve então? O ambiente, a liberdade, a possibilidade de escolha e de expor sua curiosidade. Grande parte dos livros comprados era de auto-ajuda, mas eram livros, eram suas escolhas de leitura. Além disso, conheceram novas ferramentas de leitura como, por exemplo, os e-books.
      O ambiente, então, estimulara sua curiosidade e daí, em muitos momentos, apresentaram muitas dúvidas: assim se fez o conhecimento. Suas memórias estavam marcadas para sempre. Lembrariam disso para sempre. O recurso da visita técnica é importante para conhecer e entender informações e/ou conteúdos. E as tecnologias virtuais não estavam presentes. Por que não avaliá-los neste momento?
            Na volta, muita alegria, aliás, semanas de alegria. Alguns educadores promoveram debates sobre a visita ou solicitaram diários de viagem. Ambas atividades realizadas com um prazer enorme, segundo um educador de Física. Ambas atividades coletivas, colaborativas, desafiantes cuja solução explorava as formas de olhar a vida, o mundo, a escola ou apenas a própria visita. E ai, neste momento, somente neste momento, o uso das ferramentas da Internet para mostrar (e contar sobre) o momento. Blog da escola, fotoblogs pessoais, orkuts, facebooks, MSN, tudo em movimento e explorando este momento ímpar do conhecimento. E agora uma avaliação tão tradicional?
            Não estou confortável e eles também não. Sou profissional da mediação e não da reprovação. Eles estão cada vez mais longe da ação da escola. Então é a ação da escola que deve mudar, se transformar e atrair seus olhares (dos educandos). É na escola que boa parte do que a sociedade apresenta deve ser repensada e analisada. Daí sairá o poder da escolha (seletividade) dos educandos quanto aos caminhos futuros. E de novo é a tecnologia cérebro a mais importante nestes momentos.
            Estou sozinha na sala. Acabou a prova e mais um pensamento me atravessa: o uso das mídias digitais depende muito do acesso e do perfil do educando. Eu me incomodo com a avaliação tradicional constante. Mas levo em consideração os perfis dos educandos? Ou suas dificuldades de aprendizagem? Tudo é uma questão de costume. Oralidade, escrita, livros impressos, leitura digital, conversa on-line, relação virtual, preferi-los é uma questão de hábito/costume e de perfil. A maioria dos educandos desta escola tem acesso, não tem a posse das novas tecnologias. Eles almejam a posse. Mas a oralidade e o suporte papel ainda são ainda muito confortáveis para as relações e os estudos. Não lhes ensinaram a desapegar. Não lhes ensinaram a construir conhecimentos em outros suportes, com outros recursos, em outros ambientes, mesmo os mais antigos.
            Em casa, no computador, revejo todo o meu dia e aceito que nossa escola precisa se hipertextualizar no item práticas de ensino e estimular a imaginação, a curiosidade e a criatividade de nossos educandos com afetividade, colaboração e solidariedade. É uma grande transformação, um grande despertar cuja textura fincará novos pilares à aprendizagem. Ai me pergunto:
            - Por onde começar?

Ms Profa Claudia Nunes

sábado, 8 de outubro de 2011

ATÉ QUANDO?

ATÉ QUANDO?

Há novos ares sendo respirados na educação estadual carioca. Há nova administração instaurando novos procedimentos que dinamizem as práticas pedagógicas. E há professores ainda extremamente descrentes quanto às mudanças ou quanto à possibilidade de se obter mais qualificação nas formas de aprender. Até quando?
Há o reconhecimento de que as políticas públicas voltadas à educação, por exemplo, do Ensino Médio, dependem da gestão em questão e em seu tempo de serviço na pasta. Há a certeza de que as propostas governamentais já nascem com data de término: a mudança de governo ou do próprio secretário. Até quando?
Diante desta situação híbrida, os educadores criaram uma couraça em torno de si mesmos: todo e qualquer indicativo ou projeto de mudança é desacreditado, questionado e, por vezes, anulado. E isto não é um posicionamento por infantilidade ou imaturidade. É uma postura contextualizada, ou seja, surgida a partir das várias experiências interessantes que realizaram (os educadores), mas quase nunca valorizadas. Em cada experiência de projeto ou de mudança estratégica de governo, muitos esforços, desgastes, apostas e... nada! Sem respaldo, sem retorno, sem valorização, esquecido, o educador se percebe inútil, então também se pergunta: até quando?
            Atualmente, de novo, apresenta-se uma luz ao final do túnel: há uma política pública de revalorização dos educadores por meio de pequenos (e contínuos) aumentos de salários, diferentes gratificações, aberturas de espaços de formação continuada e alguns bônus de incentivo à pesquisa e à leitura. Nada de excelência ou que transforme a visão da sociedade sobre o educador ou a visão do próprio educador sobre si mesmo com agilidade, mas, diante de uma terra árida (políticas anteriores), dos males o menor; ou diante de um ‘nada’ anterior, apresenta-se uma primavera diferente. Até quando?
            Segundo minha avó, porém, ‘para todo bônus, há um ônus’. E, no caso do ensino, este ônus apresenta-se nas exigências de reestruturação física e pedagógica da escola quase que urgentes, lembremos que o tempo das mudanças de governantes está próximo. Primeiro, há apresentação e conscientização dos gestores (entendidos como multiplicadores) quanto ao novo momento. Segundo, há a implantação de um programa cujos itens devem ser observados e suplantados quando fora dos padrões (ou metas) estipulados. E terceiro, há a construção de uma filosofia pedagógica voltada à dinamização, estímulo e motivação dos educandos. Sendo bem simples, duas questões devem ser revertidas: a ‘infrequencia’ e a indisciplina. Até quando?
            Entende-se, então, que a introdução, por exemplo, de recursos tecnológicos digitais e virtuais às atividades de aula e mesmo a realização de aulas inovadoras e diferenciadas (mais dinâmicas) são fundamentais para o reposicionamento da escola como ambiente de encontro com a informação e de construção do conhecimento, além fazer com que os educandos permaneçam mais tempo em seu interior. Até quando?
           Nesta perspectiva, tem-se observado a realização de vários projetos interdisciplinares, ou didáticos dentro da compreensão de inovação dos processos de aprendizagem. Vários educadores têm se esforçado em reler suas práticas de ensino e estabelecer novos desafios ao ato de ensinar. Mais do que o conteúdo, percebe-se que os educadores investem em carregar os educandos com variadas ferramentas que lhes proporcionem melhor integração em sociedade. As ações coletivas começam a ser focalizadas como pontos de onde os educadores podem resgatar as atenções de seus educandos ao contexto de maneira geral. Mas até quando?
            Esta semana houve novo projeto de sensibilização na escola. Mas uma sensibilização dos educadores quanto a si mesmos; sua posição, hoje, em sociedade e, mesmo diante dos seus educandos. A equipe pedagógica promoveu um encontro pedagógico com outro projeto, o “PAPO DE RESPONSA”, projeto que prioriza as vozes desejantes de mudanças e a responsabilização sobre os sonhos e o futuro de si e dos outros, sob sua (aqui, dos educadores) responsabilidade ou não. Houve estranhamento, certo mal-estar e uma grande expectativa: os educadores não foram informados sobre o porquê do encontro. Era um desconforto necessário. Era uma experiência necessária, afinal, educadores fazem isso o tempo todo com seus educandos. Até quando?
            Tudo correu bem. Depois das primeiras palavras dos palestrantes (um policial a caráter e um ex-criminoso), o desconforto virou surpresa e a surpresa, novos pensamentos. A desconfiança virou possibilidade e entendimento. Mas, e ainda assim, houve educadores ausentes e os que agiram com descaso: estavam na escola, mas optaram por não participar. Não há aqui inocência de expectativa: todos iriam participar. Há, talvez, a esperança de que a ética falasse mais alto do que a tradição; ou que a delicadeza e o coleguismo fossem mais fortes do que uma visão de mundo tão rude. Neste momento não há como não julgar: estes educadores se anularam; anularam a possibilidade de discussão; de confronto, nunca de conflito; de vitalizar o papo com um ideário carregado de outras informações; anularam a possibilidade de crescimento de todos. Até quando?
            Fora isso, estes educadores discursaram, pelos corredores, sobre a inutilidade da proposta do projeto porque, segundo eles, pertencem à escola tradicional, gostam da aula tradicional, ministram aulas mesmo e que ‘essa coisa’ de projeto (ou promoção de palestras) é ação de quem não gosta de trabalhar sério. Triste, muito triste... Estou incomodada. Até quando?
            Esta fala não os desqualificam como profissionais de ensino. Anos de exercício do ensino, com suas dinâmicas tradicionais, não podem ser desconsideradas e nem descartadas. Mas se considerarmos que os educandos são outros, mais envolvidos com as novas tecnologias, com novas responsabilidades profissionais e experiências relacionais, mas se acreditando com poucas expectativas de futuro, como ficam estes educadores?
            É difícil entender que a questão dos desenvolvimentos dos mais variados projetos e/ou atividades didáticas diferentes criam opções ao ensinar e ao aprender? Aprender a aprender tornou-se primordial para estimular o aprender a ser, a conviver, e principalmente, a fazer. Não dá mais para se manter uma postura indiferente às mudanças. Não dá mais para, como São Tomé, ‘pagar para ver’ de longe. Este fechamento absoluto quanto à possibilidade de inovar pode provocar incompreensão nos educandos quanto à sua realidade e divergências entre os outros educadores quanto ao seu papel, fatos que, hoje, mais atrapalham, do que ajudam a transformação da escola, do ensino-aprendizagem, da educação em geral.
            Até quando?

Ms. Profa Claudia Nunes