segunda-feira, 21 de novembro de 2011

CÉREBRO E OS MALABARES

Parada no trânsito, observo dois meninos brincando com malabares. Eles se apresentam nas ruas por dinheiro. Em um minuto de sinal, olho e penso: como eles aprenderam?

Hoje em dia se fala muito sobre cérebro. Vários autores de diferentes ciências apontam o cérebro como a tecnologia das tecnologias. Outras tecnologias seriam ferramentas, artefatos, instrumentos. Mas o cérebro é inato, quase perfeito.

No mundo atual, o cérebro tem sido altamente atacado por um volume absurdo de informações em sua maioria síncronas. O tempo da atenção, seleção, compreensão e formação foi encurtado. Etapas da cognição são processadas aos saltos. Há uma crise nas chamadas competências e habilidades. Mas o garoto do sinal joga malabares sem errar. É um garoto novo demais para ter passado meses treinando. Sinal não abriu e eu continuo intrigada.

O cérebro dos nativos digitais recolhe as informações e as sobrepõe. Seus sentidos estão embaralhados e a plasticidade cerebral acelerada. Se ele aprendeu malabares, como será que aprende os conteúdos da escola? Malabares, além de dinheiro, é lúdico. O treino deve ser divertido e prazeroso. O cérebro redefine suas funções quando o prazer se instala. E na escola? Será tão fácil assim?

Na escola, mesmo se o prazer for estimulado, o ambiente é de reflexão. Se o mundo fora dela estiver exigente, competitivo e veloz; na escola, esse desequilíbrio não deve privilegiado. E os cérebros entram em crise. Fora da escola a atenção está diferente, mas dentro da escola, esta demanda tempo, o que fazer? Além disso há o choque de gerações. Imigrantes e nativos digitais estão próximos, precisam se relacionar, mas  ambos tem ações mentais diferentes uns sobre os outros. Ler, ouvir e conversar têm outras estruturas e outros procedimentos. Um dos malabares cai no chão: ele se distraiu com uma garota bonita que passou. Sinal abriu. Seu poder de concentração perdeu potencia por distração. Será que é isso que acontece?

Se a escola é chata porque o tempo do discurso é mais lento, os alunos estão distraídos. A aprendizagem perde foco. Os cérebros aprendentes então procuram outras imersões. Sem alternativas ou limites, alunos imergem no prazer em excesso, por exemplo, das ferramentas virtuais. Novos desequilíbrios e outras tantas distrações. Sem eficiência, são cérebros ágeis com retorno produtivo ineficiente em relação às exigências sociais. Despreparado, não conhecem, apenas se informam. O que fazer?

Chego a casa e fico na garagem, dentro do carro, pensando. São inteligências sem poder de manejo das informações que recebem. O processo de desligamento do seu entorno cultural é grande. Que triste! É um mundo diferente. O jeito é mudar as estratégias. É aprender novas apresentações de informação para estimular e explorar capacidades já existentes no cérebro. Expressão de ordem do processo de ensino e de aprendizagem: bioretroalimentação cerebral. É motivar o surgimento de filtros que possibilitem o descarte da informação desnecessária em detrimento do fortalecimento constante das sinapses e da memória de longa duração. É subir a pressão arterial e criar vários pontos à curiosidade. É acelerar a corrida dos neurotransmissores pelo corpo e ganhar energia física e mental.

Amanha preciso apresentar um projeto aos alunos: preciso ler e lê-los. Mas tenho uma certeza: minha formação não me preparou para os malabares.

Claudia Nunes

Um comentário:

  1. Fantástico texto, Claudia! Adorei a reflexão!
    Espero de coração que gere boas idéias e, com elas, uma excelente receptividade por parte dos alunos. Nunca é tarde pra aprender como lançar os malabares sem os deixar cair...
    Beijos,
    Daiana

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