segunda-feira, 21 de novembro de 2011

MUNICÍPIO E OS LIVROS DA ABL

Bem, repentinamente, o município do Rio de janeiro recusa livros doados pela Academia Brasileira de Letras. E isso não é ficção. Será que toda a rede tem livros? Será que em projetos educacionais, os livros não poderiam ser presenteados aos alunos? Livro em casa é uma forma de incentivo também. E os dicionários, por que devolver? Além do que, que desfeita! Suspense: por quê?

Ler é algo complexo. Ler não se limita aos textos impressos. Ler é tudo o que fazemos para entender o mundo e as pessoas. Ler é necessário à integração do sujeito em sociedade. Ler é saber o que aprender para ser. Profissões são resultados de leituras. Amizade é processo de leitura. Casamentos e paixões são seduções pós-leitura do outro. Ler é uma ferramenta que estimula criticidade, argumentos e opiniões. Nós, sujeitos de outros tempos, sabemos que ler se encaixa bem em outras ações: atenção, concentração e reflexão. Isso gera aprendizado. Ler é procurar variadas informações para solucionar problemas ou entender o mundo. Então o que acontece com nossos jovens? Eles lêem sim, mas são rápidos e práticos demais. São cérebros ledores muito velozes, mas impulsivos. Eles lêem o ‘agora’. Disputam leituras de mundo agora. Mesmo antes das novas tecnologias, os jovens estenderam os seus corpos e pensamentos no mundo, com todos os riscos e desconhecimentos. Os jovens então continuam sendo ansiosos, agitados, inquietos, impacientes e multi-tudo com as suas expectativa e necessidades. São leituras simples sobre uma realidade complexa. Como fazer com que entendam que a leitura traz mais opções de futuro? Como fazer com que entendam que a leitura bem feita (com tempo) pode realizar seus melhores desejos? Não há resposta. Leitura, em princípio, demanda afetividade, e, mesmo antes disso, demanda exemplo. Na escola, podemos alertá-los para histórias interessantes, mas nada é melhor do que o exemplo. Na escola pode-se oferecer boas estratégias de encontro com o gosto da leitura ao se oferecer também diferentes gêneros narrativos. Mas nada será tão incisivo quanto o exemplo. E o que seria o exemplo? Família. Incentivo familiar. Exemplo familiar. Atenção familiar. Precisamos aceitar o seguinte: saber ler letras unidas é alfabetização. Saber ler palavras unidas é letramento. Saber ler textos, mesmo os imagéticos e sonoros, é cidadania.

Nossos jovens nativos digitais, com pouco poder de concentração, elegem, inconscientemente, o conto, a crônica, a poesia e mesmo os microcontos como gêneros mais propícios às suas praticas de ledoras e literárias. Estão sob a influencia de um mundo performático e informatizado. Só que, na escola, ainda urge o texto impresso, ainda urge a linearidade de ações, ainda urge o professor dono do conhecimento. E na família, em sua maioria, nada mais. Na família, o mundo é o do trabalho para uma vida digna. E uma vida só de trabalho seleciona as prioridades: e leitura em geral não o é. É o tempo veloz descaracterizando as funções familiares.

No mundo do trabalho, o tempo passa com a prática de vida e não com a reflexão. Nas relações entre gerações, os mais jovens ficam quase à deriva porque, cada vez mais, não sua prioridade no seio familiar. Sua imaginação, criatividade e conhecimento ficam represadas. As válvulas de escape são construir ambientes, pessoas e cotidiano na Internet com total controle das dinâmicas. Ai a melhor defesa é o ataque: não gostam de ler. É melhor dizer isso do que acatar a chatice das interpretações de sala de aula. É melhor dizer isso porque todos acreditam e os deixam quietos. Mas ler passa pela possibilidade de transformar isso tudo. Como? Dando o exemplo.

Chega de verbalizações e experiências que não atingem suas inteligências! Se expressar nunca dependeu somente do impresso. A liberdade tem múltiplas cores e em cada uma uma leitura, um sentido. Em meio a eles, sejamos ledores mesmo. Aulas com contação de historias, que tal? Atitude de reconhecimento dos seus próprios interesses em sala de aula, que tal? Explicações com mais indicações ou citações, que tal? Ler só se incentiva quando quem o faz ama ler também. Não dá para ser diferente...

Exemplo, família? Exemplo, professor? Exemplo, município? Nada! Que feio!

Claudia Nunes

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