Personalidade.
Personagem. “Persona”. Máscara. Representação. Simulacro. Todas são
palavras-símbolo aos parâmetros da atualidade e refletem uma luta atroz entre
visibilidade e invisibilidade, em nome da “boa convivência”. Entendemos que, se
a vida é um palco, viver a vida em sociedade é atuar de acordo com situações
cujos roteiros nos são completamente desconhecidos. Os indivíduos, como bons
artistas, caminham entre a determinação dos papéis sociais (ambiente externo) e
aquilo que realmente são (realidade interior), “matando um leão” a cada dia.
Hoje, no
entanto, esconder (ou omitir) é um verbo estratégico, pois sua ação equilibra e
integra todos com todos de maneira a que, segundo o site Psiqweb, estejam
salvaguardados os “quatro domínios psicobiológicos [a saber:] a regulação
dos impulsos, a modulação afetiva, a organização cognitiva, e o controle da
ansiedade”. Que coisa chata...! Nós observamos a vida e as pessoas (amigos)
que conquistamos como instantes em que apenas as “personas” não nos satisfazem
mais porque resolvemos entender seus comprometimentos com o mundo e com cada
um, por vaidade...
Assim é engraçado
pensarmos em “boa convivência”. Somos tão diferentes que acabamos por perceber
uns aos outros através (e apenas) das alterações de temperamento que provocamos
a cada vez que adquirimos e desenvolvemos, por exemplo, nossas afinidades. Mais
do que personalidade, criamos duplas personalidades. Criamos pares de
características existenciais que dão a tônica de nossas mais incisivas
tendências comportamentais. Diante disso, a sensibilidade está exacerbada em
relação às mínimas contrariedades e o foco na solidariedade está escasso...
Interessante
também é que, apesar da “boa convivência” e da criação de “redes de
relacionamentos”, somos efusivos (e muito rápidos) em demonstrar nossos
desagrados, insatisfações, rejeições ou repúdios, e nos construímos pela premeditação
de “pulos do gato” que nos mantenham na “crista da onda” das grandes formas de
ser “moderno” como contar vantagem, depreciar o trabalho do outro, esquecer
elogios, supervalorizar a própria importância etc. Isso sugere que, ocupar
espaços em quaisquer setores, se dá pela distorção das vivências e sua
conseqüência é o acirramento das relações em diferentes ambientes: está
facilitada a conquista de inimigos.
Além da
velocidade, outra palavra de ordem para entender o nosso século deveria ser
desequilíbrio. As pessoas seguem a vida solidificando amargores... por nada. Aí
sem uma expressividade aliviante, vão engolindo e aceitando muitas coisas, pois
têm medo de enfrentar o Outro com suas próprias “personas”, individualidades
e/ou temperamentos. São pessoas com nó na garganta e músculos contraídos. São
pessoas apenas defensivas. São nossos piores inimigos porque seus principais
disfarces são: o sorriso compreensivo, o tapinha às costas e alguns gestos de
solidariedade.
Como
conquistar afinidades nesse terreno? Com observação e escuta. Melhor, deixemos
quem quiser ser, ser o que quiser, e compreendamos que cada estilo é único e
precisa apenas de respeito. Ao experimentar essa atitude, encontraremos lindas
pessoas de “dupla personalidade”: uma dentro dos ambientes coletivos, por
perspicácia; e outra, fora, pela liberdade. Mas, para isso, é preciso exercitar
o que alguns chamam de “jogo do contente”, ou seja, saber (aprender) atravessar
ambientes mais hostis com dignidade e postura cotidianamente, afinal há espaços
que, depois de conquistados, não se entregam (desiste) de “mão beijada” jamais!
As pessoas de
“dupla personalidade” são pessoas com imagens côncavas e convexas porque
exprimem sua insatisfação com o que é normatizado... com ALTIVEZ, CONHECIMENTO e
em decibéis altíssimos! Entendem que o puro aceitar é tornar-se massa... talvez
até massa de manobra. E, por isso, elas têm sempre, na boca, como arma, a
melhor pergunta de todos os tempos: “por quê?”
Essas
pessoas têm memória “na pele” e aí, dentro dos mais diferentes espaços, causam
convulsões. Fora, estão soltos. Dentro, endurecem a expressão das emoções.
Fora, estão livres. Dentro, imobilizam sua humanidade. Fora, são só deleite.
Dentro, negam o prazer. Fora, são o amor. Dentro, são racionais. Fora, são
plenamente joviais. Dentro, são a ascensão de Tanatos. Fora, são donos de mil
carinhos. Dentro, sofrem as mentiras. Fora, são dignos das suas verdades. Então
há perguntas que não podem se calar: o que custa acordar para a vida? O que
custa desamparar-se de si mesmo, às vezes e deixar o Outro ser?
Mesmo em
felicidade, ressignificar-se diante do diferente, ou mesmo diante de um
incômodo, é importante para que “oxigenemos” o cérebro com outras
possibilidades de Ser. É a terapia da auto-gestão interior porque “só depende
de nós” mantermos nossa saúde mental, por exemplo, diante do assédio moral.
Essa é a promessa de um olhar especular sobre si mesmo e a percepção de novos
brilhos, novos frescores e pulsações impressionáveis, mesmo com alguns
arranhões no imaginário.
Quando
as pessoas nascem, não vêm ao mundo achando feio ou errado sentir ou expressar
o que quer que seja. São os adultos de plantão que se apressam por “ensinar”
estes conceitos. É o início de nossa desconexão emocional. Menina sente raiva?
Não! Menino chora? Nunca! Para que fazer isso com as pessoas? Isso é contrair a
emoção demais! Como o corpo acompanha esse processo plenamente, surgem as
deformações e, mais do que desvios de coluna, surgem desvios de conduta. Aí
temos um século cujas palavras fragilidade, superficialidade, preconceito,
intransigência, frustração, solidão, ansiedade, são os principais pontos em
nosso mapa de navegação existencial que ora congelamos, ora coagulamos em
nossas relações na cotidianidade.
Cadê o deleite,
a beleza, a naturalidade, os presentes, o abraço, a possibilidade, a curtição,
a magia, o toque? Estão nos de “dupla personalidade”, nos “diferentes”. Estão
na capacidade de ser íntegro dentro e fora! Hoje esquecemos essa competência e
só a reconstituímos, vez por outra, pelas habilidades queridas e realizadas...
por interesse. Que horrível!
É difícil não
sofrer com as influências do meio, mas diante dos diferentes, diante dos de
“dupla personalidade”, a vontade tem que ser própria e se fixa na seara da
palavra PARCERIA, substantivo que redistribui os comportamentos mais emocionais
em espaços dominados apenas pela criatividade, e nunca pela vaidade.
Há
um ditado que diz: “quando a miséria entra pela porta da frente a virtude
sai pela janela”. Cuidado, gente!
Prof e amigo querido Marco Larosa, um grande abraço!
Claudia Nunes 2007
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