Hoje lendo algumas crônicas em torno do cotidiano, comecei a olhar as
pessoas e a mim. Era um olhar por dentro de mim e nas feições dos outros. Em
muitos casos, havia uma verdade tanto no olhar quanto nos gestos. Mas o que me
chamou a atenção foram os disfarces, as formas de disfarce. Internamente
comecei a me perguntar ‘por que certas coisas eram negadas por mim?’. Ao redor,
nas conversas, aconteciam jogos de sedução cínicos de todo tipo. Internamente,
minha sedução exigia uma performance interativa relacionada à minha máscara (ou
personalidade). Ao redor, acontecia um conjunto de seduções veladas de
conquista ou de encontro com o bem-estar social e financeiro a qualquer preço.
Numa praça de alimentação de shopping, o que se estabelece é a
reconfiguração cerebral em torno da solução de todos os tipos de problemas. As
preocupações, mesmo as unicamente afetivas, estão na mesa, entre amigos e
familiares e esperando solução, qualquer uma. A expectativa é que pensamentos
negativos sejam suavizados na interação com o outro, com a outra experiência, com
pouco esforço. Numa praça de alimentação de shopping, há a reflexão de um
software integrado e cuja usabilidade é diversificada a toda hora de acordo com
os interesses individuais. Seu funcionamento é automatizado pelas engrenagens
sofisticadas e individualizadas de cada atitude ou postura em defesa dos
próprios ‘umbigos’.
Mesmo excitados com os futuros encontros emocionais ou acreditando que a
vida entrou em pane total, os grupos de pessoas procuram se ajudar
compartilhando situações e colaborando em seus critérios de avaliação e
esclarecimento. Todas querem uma ‘tábua de salvação’ e provavelmente apontar um
‘bode expiatório’. Eu olho ao redor e me meço também. O que faço aqui sozinha?
O tempo nunca será meu parceiro. A vida está ativa lá fora. E o meu cérebro
requer outra otimização bem séria. Como varrer de vez parte da memória ruim que
insiste em me convencer que sou isso e não aquilo? Como transgredir medos
internos e seculares e, enfim ‘ser aquilo’? Afinal, o que não gosto, o que não
quero, o que não aceito, são os arremates da minha subjetividade e me
diferenciam dos ‘quaisquer um’: como descartá-los?
Qualidades estranhas também pertencem à lista das características
humanas. Ou não? Se assim o é, essas pessoas e eu fazemos parte de um organismo
perfeito porque, em seu bojo, convivem e se inter-penetram vírus de toda ordem.
E estes vírus são os adereços de nossas individualidades. A questão humana,
então é de equilíbrio dos desequilíbrios éticos, emocionais e financeiros. É
conviver com o vírus sem potencializá-lo por qualquer coisa. De repente um
susto no meu hipocampo: a questão mais importante do mundo humano é que todos
precisam de um Norton, um Avast, um McAfee ou um AVG interno, funcionando e
atacando detalhadamente nossos recantos mais preservados. Antivírus é a nossa
solução!
No século XXI, nós, humanos, precisamos reencontrar um antivírus potente
que nos cause leveza de SER e/ou que nos reconduza a beleza de ESTAR. Em um
texto distribuído na Internet, estão elencados alguns vírus aos quais devemos
dar mais atenção, caso queiramos, minimamente, uma qualidade de vida social e
pessoal. Para além dos ‘Tibas’, ‘Curys’ e/ou ‘Boffs’ da vida, não há mudanças
sem aceitação e análise dos nossos becos escuros. Neste caso, atenção às
sombras viróticas como:
01 - Pensamento sempre/nunca: Estas palavras
desgovernam o processo de bem-estar. Fatos ruins não têm a probabilidade de se
repetir. Fatos ruins são naturais em quem vive. Não há objetivos
inconquistáveis, há trilhas aos quais somos obrigados a fazer por sobrevivência
ou por oportunidade. Se você se diz ou escuta às vezes: ‘ele sempre me
diminui’, ‘ninguém vai telefonar para mim’, ‘eu nunca vou conseguir um
aumento’, ‘todo mundo se aproveita de mim’, ‘meus filhos nunca me ouvem’ etc.
Momento de ‘deletação’: supere!
02 - Vírus do negativismo: Desde os tempos mais
românticos, a questão da morte tem um lado de perfeição, de encontro com a
perfeição, mas por isso o corpo adoece mais rápido e se autodestrói.
Pensamentos negativos têm uma energia e esta precisa de parceria: o lado
obscuro do humano. Não há como renegá-los, mas sua permanência é uma questão de
escolha. Momento de ‘deletação’: enfrente!
03 - Vírus de prever o futuro: Às vezes,
vivemos uma sequência de situações com resultados adversos. Isto nos leva a
desacreditar em dias melhores e a perceber o futuro como negro ou cinza. Não há
porque acreditar que os marasmos, a rotina ou as desilusões sejam eternas. Toda
desorganização guarda em si um futuro restabelecimento, logo, antes de qualquer
coisa, deve-se preservar as iniciativas, os valores e os projetos. É sempre
tentar! Caso erre, não se sufoque, não desista, mude o caminho / o critério /
as opções. Ninguém prevê o futuro, no máximo deseja. Momento de ‘deletação’:
tente!
04 - Vírus de leitura das mentes: As
interações diárias com as mesmas pessoas ou não criam um pensamento: conhecemos
as pessoas. De acordo com isso, criamos clichês, preconceitos, orgulhos e
intransigências. Todos somos diferentes, logo NUNCA sabemos o que os outros
estão pensando ou como vão agir. Se vamos tomar conta da vida, tomemos conta de
nossas vidas, algo já super complicado de fazer. Ler mentes ou comportamentos é
pura ilusão. Momento de ‘deletação’: assuma!
05 - Vírus pensar com sensações: Na época moderna, Descartes era fundamental: ser humano é razão ou é
emoção. Hoje sabe-se que nossa humanidade age integrando as duas
características. Nossas sensações enredam razão e emoção com energia, daí
termos reações diferentes diante de um mesmo evento. Eventos desagradáveis
provocam pensamentos negativos. E dependendo da força, nos envolvem e nos levam
às melancolias, depressões e fraquezas emocionais sem fim. Quando a frase ‘Eu tenho a sensação que isso não vai dar certo’ atravessar os
pensamentos, momento de ‘deletação’: esqueça!
06 - Vírus da culpa: A mente, em alguns
momentos, nos prega peças. Atingidos pelo mundo real sempre muito mesquinhos,
autoritário e bruto, sofremos, e aí uma frase incompleta se faz presente: ‘eu
deveria...’. É a culpa abrindo caminho direto ao coração. Outras expressões
também são armadilhas: ‘eu preciso...’, ‘eu tenho que...’. se assim for,
atenção! Substitua! O valor da nossa presença no mundo está em afirmações como
‘eu quero’, ‘eu vou’, ‘eu posso fazer assim’. Lembre-se de um ótimo ditado
popular: ‘quem vive de passado é museu!’. Momento de ‘deletação’: siga!
07 - Vírus rotulação: Tão ruins
quanto os clichês são os rótulos. As impressões são momentâneas. Devemos
respeitar o tempo de aprender de cada um. Ao rotular descartamos a vivência de
novas possibilidades de SER de todos. Nós nos tornamos arrogantes e frios. Ao
rotular perdemos a capacidade de mudar ou repensar nossas próprias certezas
diante da diversidade do outro. As cenas ruins ganham em potência sem reflexão
e análise. O rótulo generaliza negativamente e transforma a realidade das
pessoas em imagens virtuais de sua imaginação infectada. Momento de
‘deletação’: conscientize-se!
08 - Vírus da personalização: Somos
pessoas no mundo, assumimos nossa importância porque, em algum momento,
percebemos nossa inteligência e criatividade em prol da própria sobrevida.
Porém assimilamos também um certo egoísmo, um individualidade negativa e um
descumprimento constante da solidariedade. Como o ‘próximo’ não sou eu, eu não
preciso ajudar, aconselhar, olhar. Nós nos tornamos ‘pessoais’ demais e, em
conseqüência, levamos tudo para o lado pessoal. Se o que vem do outro não nos
agrada ou conforta, pensamos logo: ‘ele não gosta de mim’, ‘ele está com raiva
de mim’. Errado! Se o próximo está próximo aproxime-se. Um sorriso, um ‘olá’,
um silêncio pode mudar a ordem das coisas. Momento de ‘deletação’: creia!
09 - Vírus culpar os outros sempre: É
o pior de todos os vírus do pensamento! Neste momento o outro é a razão de
todos os males e por causa dele não estamos melhores. Ao culpar automaticamente
os outros pelos problemas da sua vida, este vírus o torna impotente para
responsabilizar-se pelo próprio destino. Incapaz de mudar qualquer coisa. Use o
"antivírus da auto-estima" e pare de se projetar nos outros as suas
próprias culpas. Momento de ‘deletação’: seja você!
E seja feliz de múltiplas e originais maneiras!
Claudia Nunes 2010
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