Era dos Modelos!
E modelo molda mesmo. Modelo achata e reprime a possibilidade de ser diferente.
E nos acostumamos. Nossos objetivos são os do senso comum. Nossa vida é a de
sempre. Nem pensamos em limites. Estamos formados, regrados, linearizados em
nosso movimento de SER todos os dias. Pelo menos, assim pensam / agem alguns...
Mulheres e
homens vão aceitando grilhões e seus olhares tornam-se indiferentes a qualquer
novidade. Essa é a proposta! Essa é a intenção! Ainda assim, nada disso destrói
uma característica muito humana: o estranhamento. Em algum momento, a
experiência apresenta algo insólito e a certeza do modelo se desmancha em nada.
Interessante...
De novo estou pensando em relações. E relações femininas. Sinto que há um
modelo para a pós-modernidade: intelectual, ágil, bem empregada, “descolada”,
livre e... sozinha. E nem sempre isso foi uma escolha. Não houve tempo.
Simplesmente aconteceu. Afetos e encontros foram muitos. Experiência não é a
falta. Mas mesmo aos 40, 50 e 60, ainda são seres em busca de...
Legiões de
mulheres vivem essa sensação com grande destreza. Mas outras tantas amargam o
gosto do “in-conquistado” como um veneno bebido em doses homeopáticas. Estamos
diante das mulheres invejosas, inseguras, auto-defensivas e más. Seu prazer é
ver ou criar o desprazer de/em outras. Seu prazer é atrair mais parceiras de
amargura, de qualquer maneira. E seu melhor disfarce é a aproximação ou a
amizade. Todas as informações colhidas são pilhagens para a construção de uma
armadilha.
Ignorantes,
expõem mais do que escondem, seus desejos. E aí revelam mais do que destroem
outras mulheres que se mantém em equilíbrio profissional e pessoal. Porque há
mulheres que só chegam! Invadem os espaços criando uma aura cujo efeito é a
pura admiração. Esse efeito não é fulgaz porque personalidade é sua figura de
respeito. Entram, incomodam, exigem, observam, impõem e remexem o que for
imaginário e necessário.
A vida sorriu
para elas. São “mulheres que pensam”! Seu papel é imantar o ambiente com sua
sedução, segurança e... um pouco de sorriso. Não há quem não as respeite porque
isso é o mínimo. Lutaram a vida inteira tudo o que puderam e, hoje, têm “um
lugar ao sol” por pura competência e boa administração de si e de suas emoções.
Segundo dizem “dos limões recebidos, fizeram grandes limonadas” e seguiram em
frente. São mulheres marcadas, bem marcadas, mas quem disse que os prazeres das
conquistas não causam marcas? Dor faz parte da alegria de ser mulher!
Pasmem! Essas
mulheres “não são a preferência nacional”! Sofrem com os estratagemas de um
modelo que “desentende” o que seja estabilidade psíquica, pessoal e social. Aí
o universo inicia sua conspiração. É preciso trazer as “mulheres que pensam”
para uma fôrma. Projeções e transferências tentam igualizar problemas,
estruturas (formas de pensar, agir e ser) e temperamento. É preciso torná-las
cópias de certo histerismo social. Não há lugar para as “fora da ordem”.
Afeitas a um
senso de justiça forte, sentem o clima hostil e... pensam. Este é o erro: nunca
as deixem pensar! “Mulheres que pensam” montam no salto, jogam os cabelos para
trás e entram na existência das outras, sem pedir licença! Isso não é um
prazer, é sobrevivência. Não têm a ilusão da alegria de ser alguém para muitos
ou para todos. Têm a certeza da existência de poucos eleitos. E de novo, o
mundo conspira. “Mulheres que sofrem” invejam. Não aceitam as empatias
imediatas. São incapazes de viver seus próprios sonhos. Pretendem o tempo todo
certa contaminação: desvalorizar é ação ensinada como superior.
Rente às
expectativas de um mundo inexistente, “mulheres que sofrem” escondem suas
dores, vivendo as dores alheias. E quando se acostumam, vivem isso como um
vício: criam dores no alheio para satisfazer apenas uma vontade. Não há
objetivo. Não há mais um projeto. São escolhas aleatórias alimentando o seu
vício e gerando energia vital. Mantém-se a máscara diante da face da
inferioridade, da impotência, da inadequação e da insuficiência.
É fato!
“Mulheres que sofrem” querem status e querem ser apontadas como responsáveis
pelo desequilíbrio das “mulheres que pensam”. Esquecem que, para todo jogo
(exceto o jogo de paciência), é preciso dois personagens: um que sente e o
outro que é sentido. Como “mulheres que pensam” se autoimunizam o tempo todo,
“mulheres que sofrem” passam a vida anunciando sua autoaversão: não são como as
outras são. Escondidas, sozinhas, quando se comparam, é a “derrota do álamo”.
Emergem carências e necessidades. E aí atacam, humilham, discriminam.
Ninguém é capaz
de deter uma “mulher que sofre” em sua sanha de SER outra, ou mesmo de SER A outra. Suas atitudes visam
angariar o merecimento de quem sente falta. Todas as conquistas das “mulheres
que pensam” são boicotadas através de todo o tipo de artimanha, porque são
consideradas invasoras “do que poderia ter sido e não foi”. São culpabilizadas
por tudo e a pretensão é jogá-las na masmorra do esquecimento social ou no
limbo da depreciação moral. Denegrir é a arte das “mulheres que sofrem”. Mesmo
o sentimento de gratidão é impossível. “Mulheres que sofrem” estão cegas à sua
própria natureza.
Tendo em vista a
manutenção de certa tranqüilidade nas relações, “mulheres que sofrem” sofrem o
tempo todo. Sua autodefesa se conjuga sempre da mesma forma: se vangloriam,
enaltecem a si mesmo, falam excessivamente bem das próprias coisas, enfim,
burlam suas próprias angústias e frustrações, como se nem existissem. Mas não
agüentam essa carga de mentiras e voltam suas armas para as “mulheres que
pensam”, espoliando-as no que puderem ou no que souberem ou no que imaginarem
saber.
O que fazem as
“mulheres que pensam”? O básico! Vivem suas próprias vidas! Como leoas,
raciocinam antes do bote e vêem o movimento das manadas na busca da presa mais
frágil, ou seja, do momento certo. Se ele não acontece, sempre haverá o momento
seguinte. Quase nunca perdem o foco e se posicionam diante das “mulheres que
sofrem” com individualidade e independência, mas armadas. Sabem que estão sendo
perscrutadas, mas a redoma onde se colocam precisa de muito cérebro para ser
atravessada. Têm estratégia, utilizam seu entorno como marketing, fazem
levantamento estatístico em busca da média ponderada para cada gesto das
outras, percebem os efeitos no público e... só. Daí em diante depende de quem
quiser lhes enfrentar.
Numa atitude de
indiferença respeitosa, encaram as “mulheres que sofrem” com um pouco mais de
atenção, mas com uma grande pena. Veem possibilidades, mas se eximem de
confusões e enfrentamentos. Até porque são audaciosas o suficiente para só
entrarem numa guerra em busca da eliminação definitiva de quaisquer incômodos.
São perigosas sim, mas são proativas sempre. “Tudo vai dar certo” é seu canto
em meio ao pior turbilhão. Pode ser um disfarce. Pode ser sua defesa aos
atingimentos sentidos pelas ações pífias das “mulheres que sofrem”, mas como
dizem “fazer o que?” Sua vida de luta e sua integridade só bastam para elas
mesmas. “Mulheres que pensam” são heroínas de mil disfarces e aceitam a
incorporação de papéis diversos. “Mulheres que pensam” sabem o “gênio” que têm.
Inclusive e
finalmente, “mulheres que sofrem” se percebem por causa das “mulheres que
pensam” e estas se automotivam por causa das “mulheres que sofrem”. Hegel tinha
razão: não há Senhor sem escravo, nem escravo sem Senhor. E assim, a vida segue...
Claudia
Nunes
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