quinta-feira, 18 de junho de 2015

MULHERES QUE PENSAM X MULHERES QUE SOFREM

Era dos Modelos! E modelo molda mesmo. Modelo achata e reprime a possibilidade de ser diferente. E nos acostumamos. Nossos objetivos são os do senso comum. Nossa vida é a de sempre. Nem pensamos em limites. Estamos formados, regrados, linearizados em nosso movimento de SER todos os dias. Pelo menos, assim pensam / agem alguns...
Mulheres e homens vão aceitando grilhões e seus olhares tornam-se indiferentes a qualquer novidade. Essa é a proposta! Essa é a intenção! Ainda assim, nada disso destrói uma característica muito humana: o estranhamento. Em algum momento, a experiência apresenta algo insólito e a certeza do modelo se desmancha em nada.
Interessante... De novo estou pensando em relações. E relações femininas. Sinto que há um modelo para a pós-modernidade: intelectual, ágil, bem empregada, “descolada”, livre e... sozinha. E nem sempre isso foi uma escolha. Não houve tempo. Simplesmente aconteceu. Afetos e encontros foram muitos. Experiência não é a falta. Mas mesmo aos 40, 50 e 60, ainda são seres em busca de...
Legiões de mulheres vivem essa sensação com grande destreza. Mas outras tantas amargam o gosto do “in-conquistado” como um veneno bebido em doses homeopáticas. Estamos diante das mulheres invejosas, inseguras, auto-defensivas e más. Seu prazer é ver ou criar o desprazer de/em outras. Seu prazer é atrair mais parceiras de amargura, de qualquer maneira. E seu melhor disfarce é a aproximação ou a amizade. Todas as informações colhidas são pilhagens para a construção de uma armadilha.
Ignorantes, expõem mais do que escondem, seus desejos. E aí revelam mais do que destroem outras mulheres que se mantém em equilíbrio profissional e pessoal. Porque há mulheres que só chegam! Invadem os espaços criando uma aura cujo efeito é a pura admiração. Esse efeito não é fulgaz porque personalidade é sua figura de respeito. Entram, incomodam, exigem, observam, impõem e remexem o que for imaginário e necessário.
A vida sorriu para elas. São “mulheres que pensam”! Seu papel é imantar o ambiente com sua sedução, segurança e... um pouco de sorriso. Não há quem não as respeite porque isso é o mínimo. Lutaram a vida inteira tudo o que puderam e, hoje, têm “um lugar ao sol” por pura competência e boa administração de si e de suas emoções. Segundo dizem “dos limões recebidos, fizeram grandes limonadas” e seguiram em frente. São mulheres marcadas, bem marcadas, mas quem disse que os prazeres das conquistas não causam marcas? Dor faz parte da alegria de ser mulher!
Pasmem! Essas mulheres “não são a preferência nacional”! Sofrem com os estratagemas de um modelo que “desentende” o que seja estabilidade psíquica, pessoal e social. Aí o universo inicia sua conspiração. É preciso trazer as “mulheres que pensam” para uma fôrma. Projeções e transferências tentam igualizar problemas, estruturas (formas de pensar, agir e ser) e temperamento. É preciso torná-las cópias de certo histerismo social. Não há lugar para as “fora da ordem”.
Afeitas a um senso de justiça forte, sentem o clima hostil e... pensam. Este é o erro: nunca as deixem pensar! “Mulheres que pensam” montam no salto, jogam os cabelos para trás e entram na existência das outras, sem pedir licença! Isso não é um prazer, é sobrevivência. Não têm a ilusão da alegria de ser alguém para muitos ou para todos. Têm a certeza da existência de poucos eleitos. E de novo, o mundo conspira. “Mulheres que sofrem” invejam. Não aceitam as empatias imediatas. São incapazes de viver seus próprios sonhos. Pretendem o tempo todo certa contaminação: desvalorizar é ação ensinada como superior.
Rente às expectativas de um mundo inexistente, “mulheres que sofrem” escondem suas dores, vivendo as dores alheias. E quando se acostumam, vivem isso como um vício: criam dores no alheio para satisfazer apenas uma vontade. Não há objetivo. Não há mais um projeto. São escolhas aleatórias alimentando o seu vício e gerando energia vital. Mantém-se a máscara diante da face da inferioridade, da impotência, da inadequação e da insuficiência.
É fato! “Mulheres que sofrem” querem status e querem ser apontadas como responsáveis pelo desequilíbrio das “mulheres que pensam”. Esquecem que, para todo jogo (exceto o jogo de paciência), é preciso dois personagens: um que sente e o outro que é sentido. Como “mulheres que pensam” se autoimunizam o tempo todo, “mulheres que sofrem” passam a vida anunciando sua autoaversão: não são como as outras são. Escondidas, sozinhas, quando se comparam, é a “derrota do álamo”. Emergem carências e necessidades. E aí atacam, humilham, discriminam.
Ninguém é capaz de deter uma “mulher que sofre” em sua sanha de SER outra, ou mesmo de SER A outra. Suas atitudes visam angariar o merecimento de quem sente falta. Todas as conquistas das “mulheres que pensam” são boicotadas através de todo o tipo de artimanha, porque são consideradas invasoras “do que poderia ter sido e não foi”. São culpabilizadas por tudo e a pretensão é jogá-las na masmorra do esquecimento social ou no limbo da depreciação moral. Denegrir é a arte das “mulheres que sofrem”. Mesmo o sentimento de gratidão é impossível. “Mulheres que sofrem” estão cegas à sua própria natureza.
Tendo em vista a manutenção de certa tranqüilidade nas relações, “mulheres que sofrem” sofrem o tempo todo. Sua autodefesa se conjuga sempre da mesma forma: se vangloriam, enaltecem a si mesmo, falam excessivamente bem das próprias coisas, enfim, burlam suas próprias angústias e frustrações, como se nem existissem. Mas não agüentam essa carga de mentiras e voltam suas armas para as “mulheres que pensam”, espoliando-as no que puderem ou no que souberem ou no que imaginarem saber.
O que fazem as “mulheres que pensam”? O básico! Vivem suas próprias vidas! Como leoas, raciocinam antes do bote e vêem o movimento das manadas na busca da presa mais frágil, ou seja, do momento certo. Se ele não acontece, sempre haverá o momento seguinte. Quase nunca perdem o foco e se posicionam diante das “mulheres que sofrem” com individualidade e independência, mas armadas. Sabem que estão sendo perscrutadas, mas a redoma onde se colocam precisa de muito cérebro para ser atravessada. Têm estratégia, utilizam seu entorno como marketing, fazem levantamento estatístico em busca da média ponderada para cada gesto das outras, percebem os efeitos no público e... só. Daí em diante depende de quem quiser lhes enfrentar.
Numa atitude de indiferença respeitosa, encaram as “mulheres que sofrem” com um pouco mais de atenção, mas com uma grande pena. Veem possibilidades, mas se eximem de confusões e enfrentamentos. Até porque são audaciosas o suficiente para só entrarem numa guerra em busca da eliminação definitiva de quaisquer incômodos. São perigosas sim, mas são proativas sempre. “Tudo vai dar certo” é seu canto em meio ao pior turbilhão. Pode ser um disfarce. Pode ser sua defesa aos atingimentos sentidos pelas ações pífias das “mulheres que sofrem”, mas como dizem “fazer o que?” Sua vida de luta e sua integridade só bastam para elas mesmas. “Mulheres que pensam” são heroínas de mil disfarces e aceitam a incorporação de papéis diversos. “Mulheres que pensam” sabem o “gênio” que têm.
Inclusive e finalmente, “mulheres que sofrem” se percebem por causa das “mulheres que pensam” e estas se automotivam por causa das “mulheres que sofrem”. Hegel tinha razão: não há Senhor sem escravo, nem escravo sem Senhor. E assim, a vida segue...
Claudia Nunes



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