quinta-feira, 18 de junho de 2015

LIMITES

Estou detestando a palavra “educar”! Cada vez mais penso que agir em meio ao seu significado é exigir do outro uma atitude passiva diante dos desafios do cotidiano. Aparentemente um educador molda seus educandos para que aceitem seus status quo sem confusões. Sendo assim, tornar alguém educado “cheira” a tornar alguém mais limitado do que as questões sociais brasileiras já o fazem. É tudo impressão, eu afirmo, mas por que, por exemplo, de uma hora pra outra, o assunto “perda dos limites” está tão na moda? O que são “limites”? O que é educar “com limites”? Hoje eu penso que isso é pura redundância. Do jeito que as coisas estão: se eu educo, limito. Se limito, tenho seres “educadinhos”, mas alienados.
Toda hora eu escuto: “precisamos impor limites”. O que é isso? Resquício da ditadura? Impor? Como assim? Se a relação entre família, escola e aprendizagem tem ruídos em seus desenvolvimentos, “parem o trem”, pois quero repensar! Segundo o que penso e percebo, o único momento em que é provável a percepção de que é necessário uma ação mais efetiva da família, no processo de formação dos indivíduos, acontece quando eles já entendem, quando eles já apresentam atitudes intencionais, quando eles não têm mais gestos inocentes. Daí em diante, ou seja, a partir dos 6 ou 7 anos, a FAMÍLIA precisa ter atenção às vivências, às amizades, aos divertimentos, às escolhas pessoais, aos comportamentos e às emoções de seus filhos. Lógico que, para cada evento (situação), uma postura, uma atitude, mas atenção é fundamental, afinal como viver e conviver na sociedade sem obedecer a regras mínimas? Mas isso se aprende em casa!!!
Sabemos que as exigências da sociedade atual requisita de forma perversa todos os pais. Todos precisam trabalhar muito porque precisam sub-existir e criar seus filhos. Há, então uma crescente dependência da escola, fonte de instrumentalização cognitiva para lidar com a sociedade do conhecimento. Ou seja, a escola passou a ser indispensável nas relações entre pais e filhos. Como não têm tempo de dar a formação aos seus filhos, os pais relegam à escola a tarefa de fazê-lo. Se a sociedade requisita um cidadão “multi-tudo”, é preciso entregá-lo com instrumentos acadêmicos certos para interferir neste contexto adequadamente. Mas sabemos que a escola não faz só isso: ela também socializa conhecimento e relações. Porém uma certeza: a família não cumpre seu papel por estar comprometida com sua própria subsistência e sobrevivência, e a escola não sabe como “construir” um cidadão empreendedor, instrumentalizado, se ele não teve da família a qualificação como sujeito. Hoje é emergente diferenciar com clareza o que é da família e o que é da escola. E com isso, de novo, voltaremos a discussão dos benditos limites!
Como desenvolver a idéia da existência de limitação nos indivíduos? Se todos nos sentimos culpados pelas nossas grandes desatenções e fragilidades, como criar no Outro a idéia de que existem regras, de que algumas precisam ser cumpridas e que, caso contrário, haverá efetivas conseqüências? Plagiando Assmann, é preciso “reencantar” a família de maneira a que esta entenda seu nível de importância na formação do sujeito, como fonte interferidora dessa formação com regras que o faça sentir-se adequado socialmente, inteirar-se do que a sociedade vive e conhecendo o que há em seu contexto. O resto, mesmo com a quebra de vários paradigmas, estabelece-se no livre arbítrio.
Pais não podem ter medo dos filhos. Pais precisam ter respeito aos filhos. Pais precisam ter a humildade de perceber que seus filhos recebem diferentes informações todos os dias e que precisam de atenção às suas dúvidas e reações o tempo todo. Não é impor limites, é administrar o tempo de convívio criando um ambiente positivo, de verdade e de diálogo constante. Lógico que, na contemporaneidade brasileira, há um medo generalizado de perder. É muito tênue a relação porque o tempo junto é ínfimo e, se é assim, o tempo perto é “para agradar”, nunca para discutir. O medo é do desgosto. E aí pais abrem mão de coisas mais valorosas e importantes. Gente, uma boa discussão leva ao conhecimento sempre! Limites passam a ser pontos que se entendem quando as atitudes são de exemplificação e de compartilhamento. É preciso mostrar aos “garotos” que condutas negativas não os tornam pessoas melhores. No futuro, o que virá é o agradecimento.
Limites sem diálogo? Papai Noel não existe! Limites acontecem gradativamente com um diálogo CONSTANTE e, muitas vezes, repetitivo, em que um fale e o outro ouça, e vice-versa. E os pais, acreditamos que mais experientes, devem entender de antemão que, tentar desenvolver limites em meio às indisciplinas, ou “erros”, é gerenciar as formas de se sentir percebido de seus filhos/alunos, afinal jovens têm a necessidade de chamar atenção. E chamar atenção é denúncia da falta de AFETO. Se a indisciplina é forma de chamar e ter atenção, para criar limites é preciso criar laços mais afetivos.


Claudia Nunes 2008

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