O apagão passou.
Como um cometa deixou um rastro confuso de disse-me-disse no país. Forças da
natureza? Força de um hacker? Incompetência de alguém? Ninguém jamais saberá ao
certo. O que fica é a certeza de que a perfeição é impossível. Mas por outro
lado, fiquei observando minha janela. Muitas velas sendo acesas. Muitas pessoas
na janela olhando a escuridão sem entender. São fantasmas aguardando uma luz no
fim do túnel ou da rua. O tempo passa. Muitos barulhos estranhos na noite. Nada
é conhecido. Parece que há outra realidade sobreposta. E todos na janela
pensam. Do lado de cá, estou olhando pessoas, silhuetas de prédios, claridades
no infinito e...barulho... um barulho estranho... Aguço meus ouvidos e escuta
palavras. É um RÁDIO DE PILHA! Que medo! É primitivo demais! Volto para o meu
quarto, procura meu laptop, ligo e acesso informações. Sem luz, mas nao sem
informação! Meus ouvidos latejam... Foi em Itaipu? foi em linha de transmissao?
Nao sei... Pessoas do pais inteiro sem lugar, sem espaço, no escuro. O
tempo se esvai... Celular toca, amiga presa no elevador... Outra amiga na
portaria de casa a 10 andares de sua sala de estar... São Paulo, Rio, Minas,
Vitoria, Espírito Santo apagados... Nao gosto de vela. O vento muda as imagens
da vela. Volto para a janela. Nada de informação. Todas as baterias se foram.
Em duas horas, sou primitiva novamente. Nada além do calor, da vela e do
barulho ao longe. Desisto. O barulho me chama. Minha mae dorme placidamente
junto com seu suor. De novo, desisto. Procuro pilhas nas gavetas. Ligo o radio.
Conforto. Na janela, uma babel nas ondas do rádio. No ouvido, as noticias sobre
a escuridao do pais vão se desdobrando... Estou num canto do quarto, perto da
janela. Os olhos estão se acostumando. Meu corpo está menos tenso. O que será
de Caxias e Nova Iguaçu? Da janela, musica, informação e noticias. Da janela,
como na geral do maracanã, estamos em rede radiofusora sem o sentido do olhar,
primatas tecnológicos.
Claudia Nunes 2010
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