domingo, 21 de agosto de 2011

APRENDER A PENSAR

Fevereiro foi o mês das observações e das experiências. Os alunos, hoje, chegam carregados de informações. Mas ainda chegam às escolas como espectadores de um futuro incerto. Muitos já são alunos da vida, mas, ainda assim, como os outros, sentem faltas que não sabem explicar, sabem apenas que, na escola, seus objetivos serão alcançados com mais facilidade. Ali, pensam, ganharão instrumentos que facilitem suas vidas.

Na primeira semana, o encontro com várias disciplinas e vários professores é um choque sério. Muitos (pré)conceitos percorrem seus pensamentos: ‘ai, eu não sei escrever’, ‘puxa, nunca aprendi química direito’, ‘será que conseguirei resolver essas expressões todas?’, ‘nossa, é muita coisa, muitos trabalhos, muitas leituras’, etc. A expectativa dos alunos é atacada pelas obrigações escolares e por posturas docentes mais fechadas. Na escola, é preciso aprender cada especificidade com clareza, agilidade e coerência. Será?

A dinâmica é a seguinte: em disciplinas separadas em um ou dois tempos de 40min, as informações devem ser absorvidas (e memorizadas) de forma a capacitar os alunos aos testes e provas bimestrais. As cognições em processo são treinadas a terem apenas um objetivo: passar com nota azul (de 5,0 a 10,0) em cada bimestre. Não há mente que suporte isso! Não há aprendizagem que se amplie desta forma. Portanto, há uma mentalidade que, acredito, deve ser limada da escola: os alunos devem prestar a atenção, em silencio, aos muitos conceitos apresentados pelos docentes; desta forma ganham excelência, e passam. Escola é muito mais do que isso.

Ensinar é aprender junto. Aluno é parceiro do conhecimento. Professor é mediador da aprendizagem. Estas são pertinências que devem integrar as práticas de ensino a cada promoção do conhecimento. E neste ponto as ações ‘inter’, ‘multi’, ‘trans’- disciplinares são imprescindíveis. Não há mais espaço para ações isoladas de cada disciplina articulando conteúdos com temáticas diversas sem um mínimo de contextualização ou com outras disciplinas, ou com o próprio contexto do aluno. O usufruto dos conceitos de ‘compartilhamento’, ‘conexão’ e de ‘colaboração’, em tempos de novas tecnologias, por exemplo, precisam constar nas metodologias a serem avaliadas em cada atividade sugerida pelos docentes. 

Professores em equipe. Alunos em equipe. Criatividade em expansão. Como afirmam alguns autores, em projetos educacionais, onde as idéias anteriores estejam bem articuladas, o tempo para pensar e encontrar soluções precisa ser saboreado (refletido) junto. Mesmo diante de múltiplas vozes, o conhecimento demanda tempo, um espaço entre o encontro, memorização e utilização das informações. E neste contexto, não há acasos, inspirações ou coincidências em meio à formação do pensamento. Mais do que o currículo, aprender a pensar exige contextualização, emoção e trabalho, muito trabalho, fato que, por vezes, não se encontra em diferentes performances pedagógicas docentes.

Os alunos, ainda que não percebam ou não ajam como tal, têm expectativas e esperam ‘surpresas’ da escola; eles não querem ser passivos em seu próprio processo de aprender. Eles têm o que dizer. Eles querem se dizer. Eles necessitam (e precisam) participar. Por hábito ou costume, chegam à escola, querendo surpreender e serem surpreendidos. E a palavra ‘inovação’ é a grande senha para a diminuição, por exemplo, da evasão. Por que não? Evasão significa desinteresse, chatice, mesmice, e disso ele, aluno, quer fugir rápido.

Os docentes, como eles dizem, precisam estar antenados quanto a essa diferença discente e se experimentar em outro lugar, ou seja, precisam se assumir como mediadores da aprendizagem, não mais como transmissores de informações. E nesta mediação devem procurar afetar sua sala de aula com dinâmicas que construam uma relação melhor dos alunos com o próprio docente, com os conteúdos e com sua aprendizagem. Por conseguinte podem irromper, no imaginário discente, como interessantes, legais, confiáveis, parceiros. Toda ação docente é uma ação integralizadora das muitas formas de pensar e representar. 

Aprender a pensar ‘passa’ por se construir proximidades afetivas e cognitivas, mediadas por recursos diversos, dos mais antigos aos mais contemporâneos, com atenção às soluções encontradas. Mas como dissemos sempre quando realizamos reflexões sobre nosso cenário político: se isso demanda incentivo governamental, também demanda vontade docente. 

E ai? Ficamos como?

Profa Ms Claudia Nunes

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